"A responsabilidade histórica não recairá só sobre os psicopatas gananciosos. Tampouco culpem os ignorantes. O sangue estará nas mãos dos que se acovardaram"
Funeral de José Cláudio Ribeiro da Silva. Líder extrativista na Amazônia; assassinado no dia da aprovação do Código Florestal pelo Congresso |
Ah, eu queria ter a rima rápida e incisiva dos rappers, a serenidade dos iogues, os dons no Orkut dos secundaristas, a capacidade desses meninos que fazem vídeos... Queria eu ser tão inteligente como esses secundaristas que sabem o que está acontecendo e acham foda, e são mais inteligentes que a maioria de seus professores. Eu queria ter a arte dos grafiteiros, a coordenação e dom das mãos e almas dos músicos. Queria ser tão desinibido e corajoso pra expressar de maneira tão gritante tudo o que eu quero, sou e acredito quanto a mais escandalosa das drags. Eu queria a fé dos jovens religiosos, que se põem em movimento em suas peregrinações mesmo sem saber direito qual será o caminho nem os desafios e novidades que hão de aparecer. É aquela coisa de confiar e caminhar. Se eu jamais tivesse fumado, talvez eu tivesse o fôlego dos ciclistas profissionais que cruzam longas distâncias pelo Brasil. Se a dureza da vida não tivesse matado meu avô antes de eu nascer, eu teria pedido para ele me ensinar a tocar a viola caipira e a dançar a catira. Se eu fosse professor universitário, daria um jeito de dar aula e avaliação pra quem precisasse se ausentar por motivo de consciência de força maior, anistiaria as faltas. Porque de fato, se eu dançasse, eu dançaria; se eu cantasse e tocasse e cantaria e tocaria.
Eu queria saber fazer refrão. Queria ser tão bom em convencer as pessoas a clicarem em links como o são aqueles que fazem publicidade.
Se eu soubesse tocar um instrumento, eu tocaria. Ah, se eu fosse professor de criança nessa hora - coisa que nunca soube ser - eu pediria para cada criança desenhar um coisa bem bonita, um mundo bem bonito, do jeito que quiserem. Ia poder rabiscar fora das linhas (ouvir “O círculo”, de Parteum). Então, eu ia mandar pra cada senador (e-mail e telefone de todos: http://www.senado.gov.br/senadores/) pra eles verem como são diferentes e coloridos, como haveriam de haver árvores e céu azul e animais vivos. Ia mostrar que eles não desenham nem sonham com desertos de monocultura industrial nem com rios secos.
Eu sei é que a história, os que nascem/não-nascem e morrem muito depois de cada época, é implacável. Eles sempre acabam por se perguntar: “Por que ficaram vendo a banda passar?”. Não poderemos alegar ignorância. É verdade que a TV e tantas outras máquinas monopolizadas de construir realidade mentem e “garantem” que está tudo bem, que a mão invisível que rouba, mata, amordaça e destrói o planeta é uma espécie de “vontade divina” ou “estado natural das coisas”, que, enfim, só podemos assistir. Mas basta cinco ou 10 minutos de silêncio televisivo e reflexão para ver que sangue está na mão daqueles que dizem para confiarmos na mão do mercado e de representantes que não precisamos vigiar.
Não poderemos alegar ignorância. Tínhamos pluralidade, tecnologia, possibilidade, sim, de estar informados e saber das coisas e de nos posicionar, inclusive ativamente. E ainda que não tivéssemos internet em 2011 (e tínhamos), não poderemos negar que tínhamos praças. Mas não fomos pra lá conversar, ouvir o que outros tinham a dizer, saber o contraponto das coisas. Poderíamos (podemos/devemos) ter combinado coisas.
Éramos muitos. Tínhamos muitos motivos para nos indignarmos. Cada um podia fazer alguma coisa... Por mais aleijado que se sentisse, todos podíamos nos pôr a caminho, e não importava que poderíamos caminhar por caminhos diferentes; poderíamos ter nos encontrado até mesmo em praças diferentes. E se nos encontrássemos, dançaríamos ao som de tambores diferentes.
Talvez pudéssemos reencontrar as danças de nossos antepassados e músicas que cantavam na beira de rios que talvez deixem de existir. E sim, havia jovens que sabiam tocar e eram capazes de músicas novas e também de reinterpretar as canções de seus poetas preferidos. No Brasil inteiro havia caras que sabiam Raul, Renato Russo. No Brasil, às vésperas de julho de 2011, havia esperança. Havia a lembrança de outras épocas e de pessoas que não se acovardaram nessas suas respectivas épocas.
Talvez pudéssemos reencontrar as danças de nossos antepassados e músicas que cantavam na beira de rios que talvez deixem de existir. E sim, havia jovens que sabiam tocar e eram capazes de músicas novas e também de reinterpretar as canções de seus poetas preferidos. No Brasil inteiro havia caras que sabiam Raul, Renato Russo. No Brasil, às vésperas de julho de 2011, havia esperança. Havia a lembrança de outras épocas e de pessoas que não se acovardaram nessas suas respectivas épocas.
Mas eu não sei dizer ainda, leitor do futuro, se os nossos medos, que também eram plurais, vencerão nossas esperanças. Havia vários tipos de medo, cada um tinha o seu... E alguns, se pudessem imaginar, eram tão insignificantes na verdade.
Éramos tão diversos, mas concordávamos, no fundo de nossos corações doloridos e angustiados, que a vida no planeta (que deve ser diversa para continuar pelos séculos) devia ser preservada.
Em 2011 os jovens do mundo todo se levantavam contra a máquina que dava sinal de falência. Se levantaram contra a injustiça de tiranos e da economia. Pelos motivos mais diferentes, mas sabíamos no fundo que era uma coisa só. Nunca fomos tão fortes. E quis a História, que bateu à nossa porta, com a missão que é só fossemos nós, os jovens brasileiros, quem deflagrasse a revolução da juventude nas Américas, com a bonita missão de defender o maior bem da humanidade, a vida no planeta. Éramos todas as religiões e cores e idéias lugares do Brasil. Talvez não soubessemos direito o que fazer, mas nosso coração dizia. Sabiamos que poderiamos construir junto. Era preciso vencer a revolução contra a tirania do medo em nossos corações.
Mas eu estou vivo e escrevo para pessoas vivas... Se você não sabe ainda sobre as conseqüências sociais e ambientais da proposta que pode ser aprovada pelo Senado nos próximos dias, informe-se.
Em 2011 os jovens do mundo todo se levantavam contra a máquina que dava sinal de falência. Se levantaram contra a injustiça de tiranos e da economia. Pelos motivos mais diferentes, mas sabíamos no fundo que era uma coisa só. Nunca fomos tão fortes. E quis a História, que bateu à nossa porta, com a missão que é só fossemos nós, os jovens brasileiros, quem deflagrasse a revolução da juventude nas Américas, com a bonita missão de defender o maior bem da humanidade, a vida no planeta. Éramos todas as religiões e cores e idéias lugares do Brasil. Talvez não soubessemos direito o que fazer, mas nosso coração dizia. Sabiamos que poderiamos construir junto. Era preciso vencer a revolução contra a tirania do medo em nossos corações.
Mas eu estou vivo e escrevo para pessoas vivas... Se você não sabe ainda sobre as conseqüências sociais e ambientais da proposta que pode ser aprovada pelo Senado nos próximos dias, informe-se.
Eu não sei o que as pessoas devem fazer, nem como fazer, mas temos que nos pôr a caminho - e é agora. Defender a maior riqueza que existe é uma missão de quem está vivo hoje, maio/junho de 2011, e no Brasil.