sábado, 26 de dezembro de 2009

História da Música 1 - Punks contra a Rainha

Hoje, como presente de natal atrasado, tem novidade no Blog, a colaboração da jornalista cultural Renata Takahashi, que manja tudo de História da música (em especial do bom e velho e sempre novo Rock'n Roll). Na sua estréia, os anarco-irreverentes Sex Pistols e sua "homenagem" à rainha da Inglaterra.


DEUS SALVE A RAINHA
por Renata Takahashi


Cento e seis soldados mortos na Guerra do Afeganistão, recessão e desemprego marcaram o ano de 2009 no Reino Unido. A Rainha Elizabeth II, em sua tradicional mensagem de Natal declarou que é melhor esquecer esse ano.
Elizabeth reina desde a morte de seu pai, George VI, em 1952.
Naquela ocasião o hino inglês, God Save the King (Deus Salve o Rei), teve de ser mudado para God Save the Queen.
A mensagem da rainha me fez vir à cabeça a música God Save The Queen, do Sex Pistols, que leva o mesmo nome do hino nacional do Reino Unido mas tem um conteúdo beeem diferente.

A música foi lançada em 1977, ano em que Elisabeth II completava 25 anos no trono. A monarca teve que engolir, no ano de seu jubileu de prata, os versos "God save the queen / Her fascist regime / It made you a moron / A potential H bomb // God save the queen / She ain't no human being/ There is no future/ In England's dreaming" ("Deus salve a Rainha / seu regime facista / fez de você um retardado / Uma bomba H em potencial // Deus salve a rainha / ela não é um ser humano / Não há futuro / no sonho da Inglaterra").

Ele também deve ter preferido esquecer aquilo. Ela tá aí até hoje... sã e salva. Acho que Deus não entendeu a ironia dos Pistols e resolveu salvá-la mesmo, já que a rainha é a mais velha monarca britânica de todos os tempos, com 83 anos, e parece estar muito bem, obrigada.
Ontem na sua tradicional mensagem de natal, que há 50 anos é transmitida pela televisão e pelo Youtube, ela falou dos problemas enfrentados pelo país no ano de 2009 e lamentou a morte dos soldados na Guerra do Afeganistão.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal, festa pagã

por Leandro Cruz

Não pensem que eu sou um mala que odeia o Natal como o Mr. Scrooge de “Um conto de Natal” do escritor Charles Dickens. Só acho que tem umas coisas meio fora do lugar que vêm me irritando profundamente. Adoro voltar pra minha terrinha natal, rever os irmãos, dar um abraço nos meus coroas. Chego e minha mãe já preparou o presépio, igual a gente fazia junto quando era pequeno. Ela separa uns carneirinhos na gaveta para que cada filho que mora longe coloque um bichinho ali, participando, de certa forma dessa tradição familiar. É Natal é legal. Mas ao mesmo tempo me deixa “P”: é rodoviária lotada. Filas em tudo quanto é lugar. Neve artificial. Magrelos de barba e barriga artificial sentado em tronos patrocinados pelas associações comerciais. Consumo. Consumo. Consumo. Consumo. Gente gritando promoções. Luzes e mais luzes acesas em tempos de crise energética. Decorações caríssimas nos shoppings. No meio desse stress todo eu penso: PÔ, MAS JESUS NÃO NASCEU NUM ESTÁBULO? A lenda não diz que ele era humilde, que se revelou primeiro aos pastores e etc.?
A cada dia estou mais inclinado a acreditar que o Natal celebrado hoje é uma festa que não tem nada de cristã. Segundo os evangelhos Jesus era um cara que dizia coisas como: “olhai os lírios do campo. Eles não se afadigam nem fiam, no entanto, nem o rei Salomão, em toda sua glória, jamais se vestiu com tamanha beleza”. O suposto aniversariante do Natal teria falado “Olhai as aves do céu. Não semeiam, nem ceifam. Mas o Pai Celeste as alimenta a cada dia”... Bem, é exatamente o contrário desse stress todo de “consuma, consuma, consuma!”, essa gula hedonista de peru, tender, panetone em todas as suas variações , bacalhau, champanhe e sei lá mais o que. Tudo isso é bom. Mas vale a pena se matar tanto o ano todo por isso? Tantas horas de trabalho e sofrimento, mas tanto tempo para achar onde estacionar, mais tanta fila pelo tal tender? Tudo isso era tempo que podia ter sido passado com a família, com a esposa, ou descansando. Troco todos os presentes do mundo por mais tempo com as pessoas que eu amo.
Para desmistificar ainda mais o Natal (digo, a maneira como hoje se celebra o Natal) proponho que lembremos que boa parte dos presentes “made in Asia” foram produzidos com mão de obra semi-escrava (inclusive de crianças) e ajudaram a poluir ainda mais o mundo.
Talvez eu seja mesmo um chato exigente. Eu que nunca fui um bom cristão talvez não tivesse o direito de reclamar. Melhor eu me conformar abandonando todo esse meu sentimentalismo piegas que me atinge nessa época do ano e tentar pensar como historiador, como cientista: O Natal nunca foi uma festa cristã.
Ninguém sabe ao certo quando Jesus nasceu. Sabemos com certeza é que não foi em 25 de dezembro do ano 1. Evidencias apontam para algo entre 7 e 4 a.C. O ano 1 só é o ano 1 por conta de um erro de cálculo feito muito tempo depois. Além do mais, nenhum pastor estaria com seu rebanho numa noite de Dezembro naquela região: é muito frio! Ovelhas e eles próprios poderiam morrer congelados se marcassem bobeira ao relento.
As primeiras comunidades cristãs sequer comemoravam o nascimento de cristo. O dia 25 de Dezembro foi escolhido pelo papa Julio I em 350 pegando carona em tradições pagãs que antes disso a Igreja combatia. No dia 25 acontecia na Pérsia a comemoração da vitória do deus Mitra sobre as forças do Caos. Em Roma era o dia em que começava a festa das saturnálias (festa de Saturno). Trata-se do Solstício de Inverno, o dia do ano em que o Sol está mais distante da Terra e inicia um novo ciclo de renascimento. Em diversas culturas é o dia do Sol Invicto. (...)
(veja a íntegra desse artigo na próxima edição da coluna Viagem no Tempo na edição impressa do Jornal do Povo, do Rio Grande do Sul, ou em sua versão online em www.jornaldopovo.com.br )

domingo, 20 de dezembro de 2009

A história do jeans


Na coluna Viagem no Tempo deste fim de semana no diário gaúcho Jornal do Povo eu conto como o imigrante alemão Löb Strauss inventou as calças jeans em pleno velho oeste americano. Para ler a matéria no JP Online clique aqui. Confira na imagem do jornal e confira com minha foto na assinatura que deve-se admitir: o James Dean podia até ser mais bonito que eu, mas pelo menos ele também era mais careca. Olha essas entradas... parecem feitas com o cortador de grama.
brincadeirinha! Não apelem. eu sei que o cara era "O Cara".

sábado, 5 de dezembro de 2009

Quem inventou o blog?

Na coluna "Viagem no Tempo" que circula neste fim de semana no Jornal do Povo ( www.jornaldopovo.com.br ), do Rio Grande do Sul, contamos a história de Jorn Barger. Ele inventou o primeiro blog (hoje já existem mais de 112 milhões deles), mas ao contrário de outros pioneiros da Internet, ele não ficou milionário...

Jorn Barger, o inventor dos blogs, segura cartaz com os dizeres: “Enriqueceu o mundo. 'Web Log' nunca ganhou um centavo”.

Jornais e revistas interessados em publicar os textos exclusivos para mídia impressa da coluna semanal Viagem no Tempo podem entrar em contato pelo email viagemnotempo@gmail.com

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Comerciais Antigos 2 - Havaianas são mais antigas do que se pensa...

Garimpando o Youtube achei uma seleção de comerciais antigos das Havaianas. No primeiro da lista, notem que antigamente os publicitários ingenuamente acreditavam que qualidade vendia. Que bom que hoje em dia temos aquelas mulheres lindas e aqueles textinhos engraçados (nem sempre tão engraçados assim...)!

As sandálias Havaianas foram criadas em 1962, outrora populares (e hoje vendidas por muito dinheiro nas gringas), foram inspiradas nas milenares Tatame Zori, as confortáveis sandálias japonesas feitas de palha de arroz.

domingo, 29 de novembro de 2009

Rastafari, fé em ritmo de reggae!


Esse artigo sobre o rastafarianismo foi publicado na página B-7 num domingo de 2006 quando eu era editor do noticiário internacional do Caderno B do jornal Comercio da Franca, e viria a dar origem à série Viagem no Tempo. Posteriormente foi atualizado e republicado no Jornal do Povo (RS). Achei que merecia ser uma das primeiras postagens do blog, pois foi de certa forma "o começo de tudo".
Leandro Cruz


Lar de Usain Bolt, o homem mais rápido da história, a ilha da Jamaica foi por muito tempo um simples esconderijo de sanguinários piratas do Caribe. Até que um dia os ingleses resolveram colonizá-la para plantar cana-de-açúcar, pois viram que os portugueses (no Brasil) e os holandeses (nas Antilhas) estavam ganhando a maior grana com isso.

A tribo nativa (os arauaques) foi dizimada pelos ingleses e aqueles que sobraram se negaram a se submeter aos invasores, preferindo se jogar das encostas (como lemingues). Para “pegar no pesado” os colonizadores trouxeram amontoados, em nada confortáveis navios, negros de diferentes partes da África. Sem uma língua comum, sem escrita para preservar sua história, os negros sofreram um bocado.

Os ingleses (protestantes da Igreja Anglicana) não se preocuparam nem um pouco em difundir o cristianismo entre os povos sob seu domínio, mas, ao contrário, o usavam de maneira a justificar a dominação.



A Bíblia só chegou aos negros por meio da Igreja Batista, levada para a Jamaica pelo missionário negro George Liele. Africanos e os filhos de africanos recusaram o cristianismo, do qual acabaram tendo uma péssima imagem por identificá-lo com os brancos que os oprimiam desde muito tempo. Contudo, eles fizeram uma leitura bem particular do Antigo Testamento. Os negros identificaram a sua história com aquela escrita ali. Entenderam ser eles o povo de Israel que vivia oprimido pelo Egito ou pela Babilônia e por isso estavam longe de casa. Para eles, o exílio ocorrido há 26 séculos estava acontecendo naquele momento e as profecias da vinda de um salvador e retorno à “terra prometida”, terra de abundância, haveriam de ser cumpridas pelas mãos de Jah. Jah é como eles chamavam Deus, uma corruptela de Yahveh (Javé ou Jeová, ou qualquer interpretação do tetragrama divino).
Assim, ao mesmo tempo em que não se pronuncia o Nome em vão, também se chama o Inominável por um apelido carinhoso, monossilábico, igual costumamos usar com nossos companheiros mais íntimos.

A crença ganhou força quando a mensagem de um líder pelos direitos civis dos negros começou a romper as barreiras do Harlem (bairro negro de Nova Iorque) e chegou à Jamaica. Marcus Garvey, de origem jamaicana, pregava a emancipação dos negros, a justiça social, a liberdade. Ele achava que todos os negros deviam se unir contra a opressão e desejava que fosse fundada uma “África para os africanos”. Seu movimento civil conseguiu fazer muitos adeptos em mais de 25 países. Hoje, Garvey é considerado nos Estados Unidos um precursor de Malcolm X e Martin Luther King, mas na Jamaica ele foi considerado um profeta.

Garvey teria dito em 1927: “Olhem para a África. Quando um rei for coroado, a libertação estará próxima”. O fato é que Ras Tafari acabou sendo elevado ao trono da Etiópia, tomando para si o nome de Hailé Selassié. Os seguidores daquele embrião de religião jamaicana acabaram por crer que Ras era o messias salvador e que a libertação de todo mal e o retorno à África se aproximavam.


Selassié não dava a mínima para a divinização que os jamaicanos atribuíam a ele. Mas a esperança de salvação deu muita força ao movimento que acabou adotando o nome Rastafári. Boatos de que o monarca etíope estava doando lotes e mais lotes de terras na Etiópia se espalhavam pela Jamaica. Os adeptos da religião acreditavam que logo aportariam barcos que os levariam embora da Babilônia para a “terra prometida”. Perseguidos nas favelas de Kingston, alguns rastas (como ficaram conhecidos os fiéis da religião) se refugiaram no interior do país e começaram a fazer novos adeptos para voltarem todos para a África. O líder deles foi Leonard Howell, que fundou a comunidade de Pinnacle em um lugar isolado da ilha, onde o rastafarianismo ganhou corpo. Lá os quase mil moradores cultivavam sua comida vegetariana e também o seu “alimento espiritual”, a erva que os jamaicanos chamam de kaya (nome científico: Cannabis sativa).

A Polícia destruiu Pinnacle em 1941 porque o uso da kaya era ilegal. Essa planta, usada em cultos religiosos na Índia há milhares de anos, tinha função ritualística no rastafarianismo, mas a Polícia não entendeu. Contudo, alguns anos depois, Pinnacle renasceu.

BOB MARLEY - Selassié foi deposto pelos militares em 1974 e morreu um ano depois sem ter cumprido a promessa que ele não fez. Mas o rastafarianismo persistiu e a crença só cresceu nos anos subseqüentes, pois o cantor Robert Nesta Marley (o Bob Marley, considerado um profeta do rastafarianismo), seguido por vários outros, a difundiu através de suas músicas. Aconteceu uma nova releitura das escrituras e de tudo o mais. Agora, a fé que ganhava o planeta via no mundo moderno, tomado pelo egoísmo, injustiça, desigualdade, violência, desonestidade e opressão, a verdadeira Babilônia, não mais restrita apenas à Jamaica. As novas gerações de rastas não esperam barcos aportarem para as levarem para uma África idealizada, mas crêem que um mundo melhor há de vir. Não vai ser fácil, como não foi para os judeus do Antigo Testamento, mas com luta e fé em Jah, “everything is going to be alright” (tudo vai dar certo).

Hoje o rastafarianismo tem muitos adeptos nos EUA, na Inglaterra, no Maranhão e em vários outros lugares onde os jovens, na maioria negros, sentem que a sociedade, a “Babilônia”, não os aceita. Muitos adotam ideais rastas, sem necessariamente praticar a religião (podendo até ter outra fé), por simplesmente acreditar que há muita coisa errada neste mundo e desejar ver o homem liberto da degradação “babilônica”.

Comerciais antigos 1


Quem não se lembra dos Cobertores Parahyba? sem dúvida um dos jingles mais grudentos da História.