sexta-feira, 20 de maio de 2011

A Lei Seca e os Traficantes de Cerveja

(posto aqui uma das primeiras colunas Viagem no Tempo que escrevi para o Jornal do Povo em 2008... Ainda gosto desse artigo... Mas acho que meu texto amadureceu (rejuveneceu?) de lá pra cá.

A cerveja é geralmente associada à confraternização e a comemorações. Quando bebida moderadamente ela é assim mesmo, só alegria, como bem sabiam os antigos egípcios e os mesopotâmios, que tinham até uma deusa da cerva: Ninkasi.
Mas, de fato, se o consumo for irresponsável causa sérios problemas à saúde (como problemas no fígado), deixam os reflexos lentos causando muitos acidentes de trânsito, faz pessoas perderem o bom senso e cometerem muitas bobagens. Para evitar esses males gerados pelo excesso de álcool, os Estados Unidos, em 1917, proibiram por completo a venda, a produção e o consumo de qualquer tipo de bebida alcoólica, inclusive o mais tranqüilo vinhozinho. Tudo isso por lobby de igrejas puritanas conservadoras.
O problema foi que ninguém que gostava de tomar umazinha de vez em quando parou de fazer isso. Proibida ou legalizada, a bebida alcoólica continuou sendo consumida por quem desejasse. A cerveja continuou causando ressaca, cirrose e todos os outros problemas de antes da proibição. O que mudou é que novos problemas somaram-se aos primeiros e o principal deles foi o aumento do crime organizado.
A violência relacionada ao consumo de álcool aumentou muito. Gangsters, traficantes de bebida, promoviam o terror para manter seu império, o Governo gastava milhões com a repressão ao álcool, e o consumo não diminuía. Na verdade, foi nessa época em que se registraram casos de alcoólatras que injetavam álcool com seringas em suas veias (para “aproveitar melhor” o produto encarecido pela proibição). Ilegais, as bebidas deixaram de ter qualquer controle federal de qualidade, os traficantes misturavam as mais variadas substâncias aos produtos de modo que os danos ao organismo se tornaram muito maiores.
Um dos maiores traficantes da droga álcool nos Estados Unidos foi Alphonsus Gabriel Capone, mais conhecido como Al Capone, que inspirou vários filmes sanguinolentos de Hollywood. Capone controlava cervejarias e destilarias ilegais além de possuir bares clandestinos onde, além de bebida, rolava prostituição e jogo ilegal. Capone jamais foi preso por nenhum de seus crimes, nem mesmo pelos assassinatos cometidos pela sua organização criminosa. Ele só foi condenado, anos mais tarde, por sonegação de impostos.
A legalização em 1933 trouxe fiscalização à qualidade do álcool e acabou com a fonte de renda dos traficantes. As gangues de álcool acabaram. O Governo passou a arrecadar mais impostos e até os casos de alcoolismo diminuíram. O Governo norte-americano passou a investir mais em educação e prevenção ao alcoolismo em vez de gastar tanto com repressão.
Depois de alguns anos de legalização do álcool e do surgimento de cervejarias legais e com controle de qualidade, os norte-americanos perceberam que a proibição só interessava mesmo ao próprio crime organizado, que detinha o monopólio da produção e venda de cerveja e uísque.



Pra quem quer +
EBOOK DE GRAÇA: O Livro dos Insultos , de H. L. Menken 
Trata-se de uma reunião das polêmicas explosivas do mais famoso jornalista americano das décadas de 20 e 30. Suas idéias sobre a política, a moral, a religião, a cultura e a estupidez humana aplicam-se hoje como nunca. Tendo vivido na época da Lei Seca, Menken foi crítico feroz da proibição do álcool que nada adiantava e só servia para aborrecer as pessoas e aumentar a violência.

DOCUMENTÁRIO DE GRAÇA: "A União: o negócio por trás do barato"
Filme problematiza a questão da maconha do ponto de vista histórico, médico, filosófico, político, moral e econômico.


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Um comentário:

  1. Drogas: polêmico assunto . Não dá pra comentar em poucas palavras. No entanto, acredito que a liberalização irá aumentar o número de dependentes, por conta do maior contato, porém poderá reduzir a violência, proveniente do tráfico. Num conjunto de sociedade e governo mais conscientes, a liberação com investimento pesado em prevenção talvez seja um caminho razoável. Quem sabe com o amadurecimento do debate isto não possa ser interessante para o Brasil ?

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