Stencil atribuído ao artista Banksy em South Lake City, EUA |
Quanto menor a transparência dos governos, maior o número de teorias da conspiração que surgirão a cada notícia envolvendo negócios e militares. Principalmente quando a questão envolver os EUA, país com longo histórico de atividades ilegais de espionagem e interferência na política externa de outros países. Tão certo quanto um adolescente que esconde dos pais o hábito de fumar se banha de perfume antes de chegar em casa e inventa história (“era do meu amigo”), o governo dos EUA é o campeão em fraudar realidades e forjar histórias para disfarçar seu fedor. A indústria do espetáculo, que envolve tanto o cinema quanto os “noticiários” televisivos, estão sempre prontos a ajudar a política oficial a construir a realidade conveniente.
“Al Qaeda: cobra criada”, em que contei a história do milionário Osama Bin Mohammad Bin Awad Bin Laden, herdeiro da rede de empreiteiras que construiu alguns dos mais importantes aeroportos do mundo árabe que se tornou o homem mais procurado do planeta. Osama trabalhava para os EUA nos anos 80, quando Washington armou e treinou mujahedines no Afeganistão para combater os soviéticos.
O rompimento entre Bin Laden e os EUA ocorreu durante a guerra do Iraque, no início dos anos 90, quando o próprio Osama ofereceu ajuda para combater Saddam Hussein, outro ex-aliado dos EUA que acabara de se tornar oficialmente “bad guy” por atrapalhar os interesses das multinacionais americanas e da família real saudita sobre o petróleo do Kwait, mas foi preterido por “infiéis”.
Soldado invasor estadunidense aborda jovem afegão |
Mas Bin Laden tombou justamente num momento em que a Al Qaeda, ideologicamente, entra em um princípio de crise, de decadência, como todas as demais construções de realidade e formulações ideológicas criadas pelo capitalismo ocidental.
É preciso relembrar que Osama, mesmo depois de virar inimigo, foi muito útil para a política de Washington. O milionário tinha abandonado o Sudão após uma tentativa de assassinar o ditador egípcio Hosni Mubarak (outro aliado dos EUA até 2011) e fugido para o Afeganistão. Como ele estava lá onde tudo começou, depois do 11 de setembro os americanos tiveram o motivo diante da opinião pública e a liberação de verba para a indústria bélica que sempre precisaram para invadir e tomar o Afeganistão.
O milionário Salem Bin Laden, irmão de Osama e sócio dos Bush nos anos 70 na Arbusto Energy |
O que é inegável é que tanto a ideologia americana quanto a da Al Qaeda (que servia à primeira, ainda que como símbolo de antagonismo e justificativa para atos de guerra) estão em crise. A “versão” extremista do islã, que prega a violência como forma de libertar os países islâmicos de opressões exógenas, seguida pela Al Qaeda, nasceu com o filósofo e escritor egípcio Sayyid Qutb, membro da Irmandade Muçulmana. No entanto, o regime egípcio tirânico, aliado a Washington, que gerou essa reação ideológica, foi deposto. E não foi a Al Qaeda, nem a Irmandade Muçulmana quem derrubou o regime. Osama morre (se morreu mesmo) num momento em que já não era mais tão importante pra ninguém: nem para árabes, nem para americanos.
O “número 2” da Al Qaeda, novo “Most Wanted”, Ayman Al-Zawahiri, também é egípcio e sua agenda, discurso e fama se fizeram apresentando o terror como saída para a derrubada de Mubarak, discurso esse que já está com prazo de validade vencido
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