sábado, 22 de março de 2014

'NOVA ERA', suave conspiração - a parábola do hacker cultural/espiritual


RESUMO: Muitos já tentaram definir o que seria a 'NOVA ERA' ou "Movimento Nova Era", que raramente se assume enquanto movimento ou plano deliberado. Há adeptos mais e menos conscientes (a maioria menos) do que seria de fato esse movimento que busca inculturar práticas, símbolos, estruturas de pensamento e visões de mundo nas sociedades onde se insere. Ela já foi chamada de 'suave conspiração', pois seus entusiastas de maior poder negam que existam líderes e arquitetos da propagação de seus elementos culturais/espirituais. Mas não é bem assim, existem "centros de emanação", pessoas reais, com interesses reais e que conhecem sobre antropologia, psicologia (e outras ciências e artes, secretas ou não) o bastante para manipular processos culturais. Se pesquisarmos um pouco descobrimos que esses "centros emanadores" de elementos culturais/religiosos são também centros onde, longe das vistas do público, a elite global também busca decidir os rumos da humanidade em questões militares, econômicas, políticas, etc: sociedades secretas. Eles sabem, por experiência observada no processo histórico, que às vezes os rumos da cultura de um povo brotam "de baixo", por isso, dominar a TV e o cinema não basta para garantir o domínio ideológico no futuro, por isso a necessidade de se esforçarem para domar também a contra-cultura, a alternatividade. Se por um lado isso é preocupante, principalmente se notarmos o avanço de suas bandeiras; por outro demonstra que a guerrilha simbólica, a resistência, a contracultura são uma ameaça real ao sistema.

A parábola do hacker cultural/espiritual
A chamada 'Nova Era', com o que se pode comparar? É semelhante a um vírus de computadores...
Existem aquelas pessoas que disseminam vírus e trojans intencional e conscientemente; e existem aquelas pessoas que são infectadas e, inconscientemente acabam espalhando e disseminando programações nocivas.
Os vírus, muitas vezes são espalhados pois se travestem de links extremamente atraentes e sedutores. Algumas vezes, sites verdadeiros e bem intencionados são hackeados. No fim das contas, o link não direciona para onde diz que direciona. Ou, no mínimo, fazem descarregar arquivos não declarados para servir aos propósitos dos arquitetos de vírus, que permanecem ocultos.
EXEMPLO - o sujeito ávido por mudanças sociais e desejoso de ajudar seu planeta a se salvar da crise climática causada pelo CAPITALISMO INDUSTRIAL vai a um encontro de "alternativos" a fim de debater novas formas de organização social e trocar experiencias boas sobre formas de se tornar mais autônomo em relação ao sistema em assuntos práticos como produção de alimento e energia. mas hackers espirituais/mentais fazem esse sujeito sair de lá viciado num jogo de tabuleiro inventado pelo professor de história da arte - e proeminente membro da ordem Rosacruz - Josph Arguelles. o tal sujeito sai acreditando que o tal jogo de tabuleiros inventado nos anos 70 é um calendário maia que deve guiar seu comportamento a cada dia. Não é (1).
O hábito de maçons e rosacruzes usarem três
pontos em suas assinaturas remonta ao séc. XVIII.
Obviamente um requerimento ou petição com
essa marca tem chance maior de ser 
apreciado
favoravelmentemente  por juizes, presidentes de banco,
militares e políticos que pertençam a essas ordens.
OUTRO EXEMPLO - o candidato a revolucionário vai ao Fórum Social Mundial, e além de encontrar movimento sociais sérios, conhece uma galerinha que o convence a tatuar um símbolo maçônico/rosacruciano que dizem ser ''A Bandeira da PAZ''. Junto com os três pontinhos dentro de um círculo tatuado na pele, o cara sai tatuado no cérebro a ideia de que ficar sentado pronunciando o 'OM' pode ser mais eficaz pra salvar a terra do que ajudar a reorganizar a luta camponesa no continente latino-americano. CLARO... a tal bandeira não tem nada de revolucionária, ao contrário, foi concebida por Nikolai Roerich um magnata e artista medíocre - e proeminente membro da ordem Rosacruz - da Rússia kzarista.
MAIS OUTRO EXEMPLO - O sujeito é convidado a visitar um centro espiritual para participar de um ritual com medicina sagrada indígena - que por si só é uma sabedoria tradicional legítima, digna de respeito - mas , chegando lá, quando está no auge de sua experiencia psíquica, um líder - que de índio não tem nada - começa a falar sobre um ET de olhos azuis chamado Ashtar Sheran que está pronto para proteger a Terra contra terríveis seres do planeta Nibiru. Não preciso dizer que Nibibiru e Ashtar e outras mitologias modernas SÃO INVENÇÕES ARQUITETADAS PARA MANIPULAR PESSOAS ATRAVÉS DO MEDO. AH... claro, por acaso o ET loiro de olhos azuis foi pela primeira vez 'contactado' por um grupo de 'mediuns'  rozacruzes alemães nos anos 50.
O "vírus" é tão eficazmente instalado que os seguidores da tal "bandeira da paz", do tal "calendário da paz" e do tal "comandante estrelar da paz" ABANDONAM O IDEAL DE PAZ e ficam furiosos e agressivos - COMO QUALQUER OUTRO FUNDAMENTALISTA - quando alguém questiona a legitimidade de seus ídolos de pés de barro.
A Antiga Ordem Mística RosaCruz - centro emanador da salada mística e vírus cultural conhecida como Nova Era - diz de si mesmo ser uma fraternidade de "iluminados" ou ainda um "colégio de invisíveis" interessados em ''preservar a cultura'', ''ajudar a humanidade a evoluir espiritualmente'' e ''colaborar com os imperadores do mundo a guiar a humanidade''.
No entanto, temos visto um hackeamento de diversos movimentos de resistência e contracultura. Chegam ao extremos de usar jovens com muito potencial de transformação - capturados em momento de fragilidade e busca interior - para colonizar território e ocupar terras em sertões do Brasil. Esses jovens buscam a utopia de comunidades alternativas livres e 'pseudocomunistas', mas estranhamente essas comunidades não são incomodadas por reintegrações de posse como ocorre com movimentos de sem-terra tradicionais. E no fim e ao cabo, quando regularizadas, a posse da terra fica no nome de associações e ONGs - muitas vezes estrangeiras - COMANDADAS CERTAMENTE POR IMINENTES ROSACRUZES E MAÇONS EM GERAL ou de seus líderes.
Inclusive, tristemente, muitas comunidades alternativas AUTÊNTICAS E ESPONTÂNEAS estão sendo ingenuamente colonizadas pelo imperialismo cultural dos místicos elitistas da Ordem Rosacruz. Muitas caem na armadilha de inclusive hastear a tal bandeira da paz que NÃO, NÃO É UMA COISA UNIVERSAL E SEM DONO - ao contrário, em cada país pertence a um instituto com direção e CNPJ e hierarquia, com presidente e diretores e etc.
Amigos, sei que esse artigo sobre a "suave conspiração" da Nova Era pode revoltar muita gente, sobretudo pessoas que caíram na sua teia. A pessoa pode dizer "Mas a Nova Era prega tantas coisas tão bonitas, faz coisas tão legais e tem gente tão bacana que eu até chamo de família..." Pois sim, é feita para ser assim, sedutora. Coisas boas de caridade todas as religiões fazem- ATÉ A INVENTADA PELO EDIR MACEDO - discursos de paz, também. Devo dizer que o que de melhor se encontram nesses grupos é justamente as próprias pessoas que fazem. Não precisa se decepcionar tanto, pois fraternidade, ajuda mutua, vida na natureza e experiencias místicas são coisas que podem ser experimentadas e vivenciadas sem a menor necessidade de ser subjugado por falsos-profetas que se apresentam como 'padrinhos', 'gurus', 'babas' e etc. que estão cheios de segundas e obscuras intenções. A experiência de amor fraterno vivida em eventos como os 'Rainbow Gathering', que é maravilhosa, pode e deve ser expandida para fora inclusive da 'Família Arco Iris'... Amar pessoas iguais a nós é fácil. Mas nosso tempo exige um pouco mais do que amar simplesmente pessoas descoladas e parecidas com nós mesmos com quem temos vontade de nos isolar do mundo e deixar o resto explodir. Exige radical compaixão por cada ser humano, mas acompanhada de extremo senso crítico e ação contestatória com relação às estruturas de poder. Exige ser simples como pombas, mas prudentes como serpentes, pois estamos entre lobos.
Existe sim, um projeto de domínio de todo o território e das pessoas por uma elite global. Mas tem gente que acha mais fácil acreditar que ETs conspiram contra nós e querem dominar nossas mentes do que acreditar que haja pessoas conspirando contra nós e querendo dominar nossas mentes usando para isso inclusive historias sobre ETs dominadores de mentes.
Tem gente que acha mais fácil crer no fim do mundo do que crer no fim do capitalismo.
Sim, sociedades secretas existem. E elas têm organograma no estilo "cebola", isso é, as camadas mais externas não sabem o que acontece nas camadas mais profundas - ou sequer sabem da existência delas. Por isso tanta gente acaba trabalhando para mestres ocultos sem saber que o estão fazendo. Sociedades secretas ou esotéricas existem para guardar segredos que ajudem o grupo de iniciados a exercer poder sobre o resto da humanidade - MAÇONARIA, POR EXEMPLO, NASCE DA AGREMIAÇÃO DE PEDREIROS/ARQUITETOS que primeiramente visavam guardar e monopolizar segredos de tecnologias de construção. A construção de um projeto de dominação global exige tramoias secretas nos campos politico, econômico, militar E TAMBÉM CULTURAL/RELIGIOSO. Nas altas esferas, os grandes mestres das sociedades secretas colaboram entre si E OS ROSACRUZ PARECEM SER OS RESPONSÁVEIS PRINCIPAIS PELA ARQUITETURA CULTURAL DAQUELA QUE SE PRETENDE A NOVA RELIGIÃO MUNDIAL, QUE RELATIVIZA E PASTEURIZA TODAS AS DEMAIS TRADIÇÕES RELIGIOSAS NUMA SALADA QUE TEM LEVADO INCLUSIVE MUITAS PESSOAS A ENLOUQUECER e pode levar povos inteiros a perder suas referências ancestrais.
Um dos mais notáveis feitos de inculturação
simbólica perpetrada pela Rosacruz (ordem
amalgamada com a maçonaria) foi a inclusão
do 'Grande Selo' nas notas de um dólar 
em 1782. Além
dos 
significados místicos, esse símbolo demonstra a
arquitetura social pretendida por esses 'iluminados';
Note que o topo da piramide está destacada da
grande base. Isso é, quem está na base pode se
matar à vontade para estar um pouco mais acima
que outros tijolinhos, mas o topo é inacessível,
reservado às elites que se pretendem eternas
Eles querem ditar os rumos da cultura, basta notar que muitos iminentes membros da Antiga Ordem Mística Rosa Cruz ocupam altos cargos nas universidades, na política e nas comunicações. Alguns acumulam essas características todas, podemos citar como exemplo o senador Mozarildo Cavalcanti (ex-ARENA, ex-DEM, atual PPB), professor da Universidade Federal de Roraima e dono da Rede Tropical de Comunicações que retransmite a programação do SBT para boa parte da região Norte do País.
Essas informações não devem assustar as pessoas que involuntariamente caíram na suave teia da Nova Era. PELO CONTRÁRIO, DEVE NOS ANIMAR. Pois se essa gente tão poderosa se ocupa em hackear e colonizar ideologicamente movimentos de contra-cultura como acampamentos "bicho grilo" é por que eles sabem a força transformadora que a contracultura e a resistência espiritual tem. ANIME-SE. Noutros momentos da história poderosos buscaram anular revoluções espirituais/comportamentais - COMO QUANDO NEUTRALIZARAM O FRANCISCANISMO COM A REFORMA DA ORDEM OU TRANSFORMARAM O MOVIMENTO HIPPIE EM MERA MODINHA.
Mas dessa vez pode ser diferente. Não sou eu aqui quem vai indicar o caminho - ou estaria me igualando a eles - mas busquemos a Verdade, e a Verdade nos libertará. A Verdade verdadeira não é para ser assunto secreto, é para ser dita abertamente.
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UPDATE 1 - Mas Rosacruz e Maçonaria não são coisas distintas?
Senador Mozarildo ao lado de
José Roberto Arruda, ex-governador
do DF - afastado após divulgação
de video em que aparece recebendo
propina - com avental de Mestre
grau 3 da Maçonaria 
A primeira coisa que é preciso notar é que essas "sociedades secretas" ou "ordens" não são simplesmente religiões iniciáticas com "apenas" fins espirituais. Antes de tudo, são entidades de classe, no caso, de classes dominantes. Como disse no texto, a nova era nasce da associação de construtores e a imagem desses primeiros maçons deve ser mais identificada com os milionários donos de empreiteiras de hoje do que com os sub-remunerados operários da construção civil. Não eram os "peões".
Posteriormente, pessoas poderosas de outros oficios (militares, nobres, alquimistas) ingressam na ordem à medida em que os segredos partilhados deixam de se resumir a meras técnicas de construção de cúpulas e corte de pedras. Há banqueiros, fazendeiros, empresários da indústria bélica, juízes, etc. Mas é preciso notar que, antes de pertencer à mesma confraria, essas pessoas pertencem à mesma classe social. Obviamente, pessoas mais "pé de chinelo" podem ser convidadas a entrar nessas ordens ou em suas ante-salas light que se disfarçam de clubes de serviço como Lions e Rotary, como jornalistas e professores (e outros formadores de opinião), mas os altos cargos e degraus estão reservados aos "grandes". Muitos novatos desses clubes sequer sabem que estão entrando em subsidiárias da maçonaria; de olho no status que pertencer a esses clubes, sequer se perguntam quais os verdadeiros propósitos deles. Uma breve pesquisa sobre as vidas de Melvin Jones e Paul Percy Harris seria o bastante para tomar consciência disso.
A dupla filiação (Rosacruz e Maçonaria) não é algo raro. E além do fato de que ambas as confrarias possuírem referências simbólicas sincréticas comuns (o hermetismo, o alquimismo medial...) um fato histórico marcou para sempre o amalgama entre as duas organizações. Durante o reinado de José II na Alemanha/Áustria (1765 - 1790) , o monarca proibiu todas as sociedades secretas, abrindo exceção apenas para a maçonaria. Isso fez com que vários rosacrucianos viessem a ingressar na maçonaria. Desde então as duas organizações são indissolúveis.
A Rosacruz aparenta ser mais aberta e aceita até mulheres em seus círculos mais baixos e menos secretos. A ação nos campos da cultura são mais marcantes por parte dos Rosacruz, e a aceitação nas "camadas mais externas da cebola" de pessoas que simplesmente queiram ingressar nessa ordem desejosas de adquirir parte de seus segredos esotéricos é facilitado pois essas pessoas aceitas podem servir aos propósitos das camadas mais internas (recheada de maçons), como a difusão de seus valores e crenças na sociedade. A ideia da existência de sete energias fundantes do universo, representadas pelas sete cores do arco-iris (note que expressões como "rainbow gathering" e "família arco-iris" não são mera coincidência), por exemplo, é uma crença difundida pela Teosofia e pela Rosa-cruz (já nas camadas externas), para que essas ideias se propaguem.
A questão a ser colocada não é se as pessoas das camadas mais internas da "cebola" acreditam nessas coisas de sete-raios correspondentes a sete mestres cósmicos (provavelmente não). A questão principal é que, difundidos os elementos simbólicos, as pessoas que venham a aderir a essas crença passam a ser mais facilmente manipuláveis por que manipula esses símbolos. Para dar um exemplo grossomodo: assim um "hippie" que precise se curar de uma dor de garganta, se torna facilmente manipulável por alguém que ele acredite possa manipular a "chama verde da cura". Ao se "abrir para a cura" desfazendo-se de qualquer resistência, ele se abre para a instalação de outras "programações" (para usar a metáfora do vírus de computador).

UPDATE 2 - Por que a Nova Era é um movimento 'pelego'?
"Ao contrário das expectativas dos radicais do século XIX, a religião não desapareceu -- talvez estivéssemos melhor se tivesse desaparecido -- mas ao invés disso aumentou seu poder, semelhante em proporção ao crescimento global no reino da tecnologia e do controle racional. Tanto o fundamentalismo quanto a Nova Era obtêm alguma força da profunda e disseminada insatisfação com o Sistema que trabalha contra toda percepção da maravilha da vida cotidiana -- pode chamar de Babilônia ou o Espetáculo, Capital ou Império, Sociedade da Simulação ou do mecanismo desalmado -- como quiser. Mas essas duas forças religiosas desviam o próprio desejo pelo autêntico em direção a novas abstrações esmagadoras e opressivas (moralidade no caso do fundamentalismo, mercantilização no caso da Nova Era) e por esta razão podem ser muito apropriadamente chamadas de "reacionárias"" - Hakin Bey
Existem uma série de razões para considerar a Nova Era pelega. Vou citar algumas A salada mística da Nova Era é uma espécie de 'self service' da fé, onde o adepto pode escolher o que houver de mais atrativo para si. Você pode, por exemplo escolher uns elementos aqui, outros acolá. No entanto, à imagem do que ocorre entre os rosacrucianos, a maioria acredita na reencarnação seguindo uma lógica meritocrática. Não obstante a literatura védica contenha tesouros da sabedoria universal (e contenha coisas que talvez só servissem à sociedade indiana de 35 século atrás), é preciso notar que certas interpretações da "lei do karma" encerram uma lógica perversa, que conduziu aquela sociedade ao SISTEMA DE CASTAS (pesquise sobre isso e  entenderá a gravidade do assunto).
Acompanhe o raciocínio: se eu acredito que sendo uma pessoa boa e obediente ao guru, que pratique corretamente os preceitos, eu posso reencarnar numa vida melhor, mais abastada... isso implica que as pessoas miseráveis vivem suas vidas miseráveis por que MERECEM. Assim, um 'dalit' (casta mais baixa da índia), pode ser escravizado e humilhado por que ele está simplesmente "pagando seu karma".
Dos absurdos que já ouvi de adeptos da Nova Era, o maior deles é que os moradores em situação de rua sofrem na verdade de um "problema espiritual" e que não há nada que possamos ou devamos fazer. Isso exclui qualquer reflexão sobre as causas históricas de nossas contradições sociais. PIOR QUE ISSO: essa concepção de mundo se torna um fato histórico que colabora para a manutenção e perpetuação dessas contradições. No outro extremo, quem adere à Nova Era muitas vezes passa a se sentir muito especial, superior: uma "criança índigo" (com aura azul como os deuses hindus) ou um enviado especial à terra que, em outro plano pertence a uma tribo ou família de seres superiores, a "família arco-iris". Um dos grandes desafios do neófito é comprovar o tempo todo ser mesmo um "membro da família", o que inclui não questionar seus dogmas e respeitar os "gurus", "babas" e etc.
A ideia de que ficar meditando e cantando e fazendo "trabalhos espirituais" são mais eficazes para mudar o mundo do que a ação prática imobiliza enormes contingentes de jovens que, a princípio gostariam de fazer algo de bom e significativo com suas vidas;
Como disse, a Nova Era é sedutora e recruta seguidores em ocasiões e situações e causas pelas quais a pessoa já esteja envolvida. A ecologia, por exemplo. Como ativista vi isso ocorrer muito. Meninos que antes eram extremamente ativos (nas lutas contra Belo Monte e o Código Florestal, por exemplo) virando passivos cantadores de OM que acreditam que a "Terra está passando por coisas que ela tem que passar" mas que "um período de regeneração vai começar na Nova Era" e que por tanto só nos cabe esperar.
A própria Rede Arte Planetária (instituição "dona" do Calendário Arguelles no Brasil) divulgou nota censurando adeptos do movimento que tomaram parte em manifestações nos anos 2011/2012 dizendo que "O Movimento não está envolvido, não participa, não apóia e não incentiva nenhuma atividade que objetive promover desordens ou desrespeitar as leis vigentes nos países em que atua". Se isso não é peleguismo, eu não sei o que mais é.
Note que minha crítica é às "cabeças" do movimento. Reconheço que há muita, muita gente boa e "de luta" que adere em diferentes graus a esse movimento "líquido" e a seus símbolos. Mas essas "cabeças" que permanecem muitas vezes escondidas ou discretas fazem de tudo para imobilizar seus pupilos.
A mim parece não ser coincidência que tenha sido marcado justamente para os dias em que ocorria a conferência Rio+20, um encontro de "alternativos" da "família arco-iris" bem longe do Rio de Janeiro. Será coincidência que por esses dias também visitava o Brasil o francês Christian Bernard, Imperador (sic) da Ordem Rosa Cruz?
Sim, no discurso, eles têm uma preocupação com o meio ambiente. Mas se opõem a manifestações e não fizeram nada para impedir a aprovação do Código Florestal e a execução da hidrelétrica de Belo Monte (que estava em discussão nessa época). E ninguém puxou a orelha do senador Mozarildo, mesmo que este seja envolvido com os empresários que acabam com a Amazônia no seu Estado que é o segundo colocado no ranking do desmatamento.

UPDATE 3 - Mas o "Calendário das 13 luas" não é realmente melhor que o gregoriano?
Em alguns sentido, calendários lunares (como o maia e o judaico) são melhores. O ciclo lunar tem aproximadamente 28 dias. Para quem acompanha as marés ou está atento a seu ciclo menstrual, de fato dividir o ano em ciclos de 28 dias facilita a vida. No entanto, para acompanhar o ciclo solar é preciso ter mecanismos de compensação. O calendário pseudo-maia de Arguelles defasa ao menos um dia por ano.
Mas esse está longe de ser o maior dos problemas, por o que o professor de historia da arte fez não foi simplesmente criar um calendário inspirado no calendário maia para ajudar mulheres a controlar seu ciclo menstrual. Arguelles disse que ele próprio era uma especie de reencarnação do herói mítico maia Pakal Votan, ou seja um deus... atribuiu significados místicos a cada signo e difundiu seu 'joguinho de tabuleiro' que fixava a data do fim do mundo para 2012. Isso era muito apropriado para o movimento Nova Era, remarcar o fim do mundo, já que o mundo não acabou em 69 quando eles diziam chegaria a 'Era de Aquário' (segundo o zodíaco persa) e era preciso manter a atmosfera apocalíptica para o sucesso da tentativa de arrebanhar mais seguidores (milenarismos assim não são invenção da Nova Era).
Acompanhar o ciclo lunar (as 13 luas que ocorrem durante o ano) pode ser muito bom para a agricultura, a navegação e a saúde da mulher... mas, daí a seguir esse jogo como liturgia diária É OUTRA COISA; por exemplo, no dia do Macaco Elétrico Azul, é dia de brincar e descontrair, por que supostamente o universo está irradiando uma vibração X relativa a esse "selo"; Aí depois, se for dia de, por exemplo, "semente harmônica amarela" é dia de eu buscar harmonia com os outros, ficar quietinho e aceitar novos projetos....
MEU... isso torna os discípulos previsíveis e manipuláveis, sobretudo em comunidades ou seitas fechadas.
Como amante da vida, sou mais a favor do "faça seu destino". Mas se você acredita que hoje for dia do "dragão galático vermelho" e pronunciar o "mantra/oráculo" desse dia, com certeza você vai fazer desse seu dia um dia de "dragão galático vermelho", muito mais pela sugestão (sua e do grupo) do que por uma "vibração" cósmica emanada por extras-terrestres que auxiliaram a civilização maia. Desse modo, o tal calendário maia (que muita gente segue com fé religiosa) não é simplesmente um instrumento de marcação do tempo, mas um instrumento de dominação e controle mental.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

História da Resistência, vamos contar juntos na ágora?

Facilito esse evento nessa terça-feita (16/07) em São Paulo, A partir das 17 horas..

Por hora, pego emprestado o nome grego de "Peripatética" para definir essa proposta de dinâmica horizontal de contação da História.

Acontece no acampamento do #OCUSP, que fica ali atrás da Praça da Sé, na Praça João Mendes, em frente ao Fórum.

HISTÓRIA E ESTÓRIAS: Vamos compartilhar e socializar esses tesouros dos ancestrais.
#escoladerua #peripatética #OSaciAcordou
 https://www.facebook.com/events/207606142729627/

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Se tenho amor à bandeira?

texto publicado em 2012 no Jornal do Povo (RS) abre o debate sobre patriotismo e conta um pouco da história da bandeira nacional brasileira. Você sabia por exemplo que o verde e o amarelo representam  as famílias de Bragança e Habsburgo. 

 Antes de amar a bandeira, eu amo o irmão Tamanduá Bandeira,Myrmecophaga tridactyla, compatriota com seu habitat ameaçado
Se tenho amor à bandeira? (Parte 1)
Se amo a bandeira?
Se eu sou patriota?
Que quer dizer isso?
Se eu amo e me sinto filho dessa terra? Como não?!  Amo demais... Um amor além de linhas artificiais. Amo tanto tanto, que nem chamo de Brasil. Ficou meio pejorativo... Filho não chama pai e mãe de nome civil formal, ainda mais se for exodenominação. Qualquer bandeira que fira a face da mátria é uma bandeira estrangeira. Mas, ainda que chamem de Brasil, tudo bem... não importa, ainda amo. Você é Brasil? OK, então eu também sou Brasil. Então amo o Brasil. Acontece que esse querer bem já se expandiu e transcendeu... de modo que eu não chamo mais as pessoas que compartilham esse pedaço de Terra comigo de compatriota... Antes, eu chamo de irmão.
Irmão outro, e irmã outra. Irmão Beija-flor. Irmã Copaíba. Irmã Aroeira. Irmã Canela-de-ema. Irmã ela. Irmão leitor do JP. Irmão militar. Irmão com mais e com menos de 30... dentes e anos. Irmão indígena. Irmão em situação de rua. Irmão rio. Irmão Jacuí. Irmão Sapucaí. Irmão Tietê. Irmão Grande. Irmão Xingu. Irmão Amazonas.
Irmã água. A água é uma só. Não nascemos só na mesma Terra, também compartilhamos a água. De modo que não importa em que rio brincamos quando éramos crianças. De modo que não importa que de que rio veio a água que nos nutria enquanto crescíamos. Não importa qual água, por que a água é uma só. Desde os tempos antigos. A maior parte de nós é água. Eu já brinquei em você. Você já me lavou. Já brindamos o sangue dos dinossauros. Ou quem sabe tomamos o sangue de Cristo com café. O suor de algum Adão africano das cavernas com o pão com geleia. E se a água é uma só, qual é minha pátria? Água não é mais que sangue? O que evapora no Jordão pode chover no Ganges ou São Francisco. E vice-versa. E versa-vice, “visse”?
Também quando eu respiro. A cada tragada de ar eu não pergunto: “qual foi a árvore que lançou essa ou essa outra molécula de oxigênio que me enche de vida?”. Eu simplesmente agradeço e amo sem ver. E chamo de compatriota. E mais que isso chamo de irmã. Irmã brisa, irmã alga ou árvore desconhecida.
Então será que eu sou patriota.
Se somos compatriotas? Como não, se além de filhos de uma mesma terra sem limites somos filhos de uma mesma historia, digamos assim.. brasileira.
Ser patriota é amar a coisa ou os símbolos da coisa? O que é mais importante: a pessoa ou o nome da pessoa? Conteúdo ou rótulo? Significante ou significado?
O que é ser patriota. Amar a bandeira? Ou amar o Brasil? Que é amar o Brasil? É amar a bandeira? Ou é amar o que ela significa. O que ela significa mesmo? O verde é uma herança da cor da casa imperial de Bragança? Ou devo acreditar que o verde significa nossas matas virgens imaculadas, nossa riqueza natural? Nosso verde mais valioso que as verdinhas...  sem preço, mas de valor imensurável?
Se o verde significa a vida da nossa Terra, sim, eu amo esse verde, em seu significado mais elevado, mais transcendental. O que torna tudo um épico, mais que uma mera discussão sobre a constitucionalidade do novo Código Florestal ou viabilidade de Belo Monte.
Sei que não sou o único “compatriota”, também “comMatriota”, que se sente assim... meio Arjuna Tupiniquim... Guarani, Tupinambá. Mesmo na satyagraha, como não se entristecer ao ver irmãos do outro lado do campo de batalha? Por puro engano. Essas coisas acontecem... é universal. Lucas 12:51-53, Mateus 10-34, Tomé 16 soam junto com os primeiros acordes da Gita, que ecoam sempre. Agora, ao som de maracás e flautas xinguanas.
Vamos lá... nosso verde e amarelo. Parecem estar em guerra hoje o verde contra o amarelo. Ou será que o amarelo já foi todo levado? Que isso então? Que sou eu então? Mesmo sabendo que as linhas reais são os rios (e que esses só unem, sem jamais dividir), segundo o mapa de linhas imaginárias políticas eu sou um brasileiro paulista parido e registrado na região de cerrado.
 Ora! Como macaco sapiens curioso, sei que só resta 1% do cerrado paulista. Certo. E se o em nome do Brasil decidem matar o chão, toda a vida da terra, deixando tudo cinza na Terra e no Céu? Como não lutar contra o Brasil se o Brasil é contra o Brasil? Se é o único jeito de lutar pelo Brasil? Se em nome da bandeira verde querem matar o que resta de verde de verdade?
Se amo a bandeira? Antes disso, eu amo o irmão tamanduá bandeira. (continua).
A anta (Tapirus terrestris), juntamente com os índios
(Homo sapiens sapiens), era (é) um dos principais
dispersores de sementes e mantenedores da vida
em todos os biomas brasileiros.

Se tenho amor à bandeira? (2)
O que eu amo existe antes de bandeiras e bandeirantes

O Brasil não conhece o Brasil. O Brasil nunca foi ao Brasil. O Brasil não vê nem ouve o Brasil por que está assistindo televisão. Reflito sobre essas coisas enquanto o p(r)o(f)eta João Nogueira está “Chorando Pela Natureza” da caixinha de som do meu computador, já onde estou não dá mais para ouvir os passarinhos.
Ah se o Brasil soubesse... Os sobreviventes de todas as épocas futuras (se houverem épocas futuras) desejariam mudar seu pretérito imperfeito se pudesse. Se houvesse como... se pudessem já teriam(ão) feito. Se Tivessem a tecnologia (que provavelmente jamais teremos) certamente nossos “compatriotas” ou algum outro herdeiro da condição humana já teria pego uma máquina do tempo e vindo para cá, para esse exato espaço-tempo em que estamos, para fazer alguma coisa. Ou antes.
Não quero ser estraga prazeres. Mas como numa ilha de náufragos, alguem uma hora deve perguntar: “e se o resgate não vier?”. Ninguém de nenhum outro tempo ou lugar chegará para assumir as responsabilidades históricas que cabem a nós, os vivos, os ocupantes da espaçonave Terra NESSE tempo... Talvez não devêssemos levar ao pé da letra a canção que diz que “um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante”.
Então... “Talita cumi”. “C'mon, girl”. “Acorda, menina linda!”. “Despierta mi bien despierta”. “É nóis!”. “Debout, les damnés de la terre”.
Os do futuro desejariam poder tomar parte nesse processo, nessa luta, de hoje, de quando ainda “havia”(há) 4% da Mata Alântica; Essa luta de hoje quando ainda “dava” tempo de reflorestar (em vez de desmatar) as matas ciliares dos últimos rios dos pampas, evitando que secassem; Essa luta de hoje quando as hidrelétricas ainda não inundaram a Amazônia; Essa luta de hoje quando ainda a fumaça e as luzes artificiais não impedem as estrelas e outras coisas celestiais de serem vistas do meio da floresta.
Eles certamente gostariam de voltar... Não porque hoje ainda temos Capitalismo, mas por que ainda temos água.
Voltar para antes de o Estado Brasileiro, contra a Terra e as pessoas que diz representar, autorizar os mais gananciosos e frios homens dessa terra destruírem o que resta de vida e de segurança ambiental última. De tão prepotentes, se acham os “donos” da Terra; de tão mentirosos, convenceram quase todo mundo disso. E dessa mentira e consequente apatia, resulta muito sofrimento e morte.
Mas o que poderiam fazer se voltassem, essa gente de outro tempo (do futuro ou do passado)? Levantar cartazes? Admoestar pessoas gritando na esplanada em Jerusalém? Ou num palanque na Rússia? Que poderiam fazer? Fundar escolas filosóficas? Votar? Usar “combustível verde”? Pff... O que poderiam fazer? Separar seus restos de embalagens de seus restos de coisas mais aparentemente nojentas e ficar com a consciência tranquila? O que poderiam fazer? Escrever um artigo no jornal tentando argumentar sobre por que a água é importante para a vida (o que de fato até plantas e amebas sabem)? Ou sobre como jogar veneno no aquífero é ruim? Sobre como sem árvores nascentes secam e ocorre assoreamento de margens? Que fariam? Replicaria mais uma vez nas redes sociais infográfico sobre as alterações do código florestal? Implorariam de joelhos pra cada vivente parar e refletir um pouco? O que viajantes no tempo fariam para evitar o colapso da Biosfera? Uma grevezinha por melhores salários?
Dentre as mentiras inventam para cobrir outras mentiras, a última do nosso tempo é: “O mundo passa por uma crise econômica conjuntural, mas o Brasil está 'bombando' e no fim vai ficar tudo certo com o mundo e a gente ainda vai estar por cima da carne seca... E consumindo!”.
Não. Não é uma crise econômica. Não é nem mesmo uma crise do Sistêmica. A questão é bem mais que Capitalismo X Comunismo, o FlaFlu geopolítico do século passado. Tudo isso há de ser ruína pois a crise não é CIVILIZATÓRIA (ou mais grave ainda).
O que emerge de um mundo pós-industrial, pós-globalização? Ora algo assim, dessa dimensão, jamais aconteceu antes. Pelo menos não que a História se lembre...
Sei que já vivemos sem petróleo. Já vivemos sem muita muita coisa. Mas nunca vivemos sem água.
Há desertos que nem sempre foram desertos. Não falo só dos grandes jardins abundantes em vida que haviam às margens dos irmãos Tigre, Eufrates, Fison e Geon. Mas eu, com pouco menos de 30, lembro de ver cerrado, córrego, vagalume, seriema... onde hoje só resta 1% do bioma original. Pareço alguem já muito idoso falando.
E não é só o bairro, só uma região. Pela janela de ônibus e caronas, por centenas e centenas de quilômetros, até aonde a vista alcança é pura cana-de-açúcar. Lugares por onde já passei, onde já vivi. E sei: Havia um cerrado ali. Havia um riozinho ali. Plantavam comida ali. Agora há monocultura. Para que as pessoas possam ir para seus trabalhos de carro, para ganhar dinheiro, para pagarem o carro, para irem ao trabalho... Num falso eterno presente. Numa morte em vida em que o sujeito vive todos os dias o mesmo dia... Desejando e sofrendo por coisas que não as tornarão felizes... Numa roda de hamster com uma cenoura amarrada à frente da vista tal qual um pangaré de desenho animado.
Talvez a pergunta do momento não seja então “Tens amor à bandeira?”. A bandeira é um objeto. Ou talvez seja um desenho. Tanto buda quanto Hitler adoravam uma suástica. Tanto o Vlad III histórico quanto Francisco de Assis adoravam uma cruz. A pergunta então deveria ser: Em verdade, “de que lado você samba?”
E então, Nelson Cavaquinho começa a cantar que “O sol há de brilhar mais uma vez; a luz há de chegar aos corações...”
legenda: Os Homo sapiens (foto) chegaram ao continente Sulamericano há pelo menos 40 mil anos e se desenvolveram por milênios de maneira completamente harmônica com o meio ambiente e os outros seres até o século XVI.

Os Homo sapiens (foto) chegaram ao continente
Sulamericano há pelo menos 40 mil anos e se
desenvolveram por milênios de maneira
completamente harmônica com o meio ambiente
e os outros seres até o século XVI.

Se tenho amor à bandeira (3)
Amor é justamente o que está faltando nela

O patriotismo se tornou o argumento preferido dos covardes. Esse principio é evocado com cinismo quando se quer justificar o injustificável. É a maneira mais barata de evitar o debate, de desqualificar o interlocutor e manipular a opinião pública. Diz-se “é melhor para a nação” e pronto, justifica-se tudo, sem se questionar se a tal pauta é mesmo melhor pra a nação, nem o que e nem quem é a Nação. E fim de papo.
Nos EUA, sempre que os aristocratas do petróleo ou os grandes acionistas da indústria bélica querem fazer mais uma guerra sem sentido apelam para o nacionalismo. Usam propaganda, manipulação de mídia e chamam quem questione a guerra de traidor ou antipatriota. Aconteceu no Vietnã, aconteceu nas Guerras Búshicas dos anos 2000.
No Brasil, o apelo ao nacionalismo burro tem aparecido bastante no discurso de quem quer justificar todos os absurdos e abusos como a proposta de mudança do Código Florestal. Dizem que o novo Código vai ser bom para todos pois “o Brasil vai exportar mais”. Dizem ainda que quem é contra mudar o código é contra o país e estaria trabalhando pelo interesse de estrangeiros. Ora, mas até onde se sabe, “de fora” não são a pessoas que estão lutando contra o código, mas sim a Bunge, a Cargil, a Monsanto e outras empresas de transgenia e veneno aliadas dos ruralistas.
E de qualquer modo, se “o Brasil exporta mais”, quem está exportando é o monocultor, não o Brasil. Esse dinheiro não vai ser distribuído a todos. Quanto ao oxigênio que as florestas liberam na atmosfera, esse sim, beneficia a todos.
Não, não é bom para Brasil permitir que destruam as Áreas de Preservação Permanente. Se estiver mesmo faltando espaço para plantarmos alimentos, é por que tem muito latifúndio, não muita floresta. As grandes propriedades são apenas 15,6% dos imóveis mas ocupam 75,7% das terras agricultáveis. Ainda assim, são os agricultores familiares (donos das menores propriedades) que produzem a maior parte do alimento e mais empregam no campo. O brasileiro não come cana e soja com eucalipto no almoço e jantar.
Contradições não são novidade por aqui.
Imagino o que se passou pela cabeça de Dom Pedro II, e de sua filha Isabel quando, no navio Alagoas (que os levou para o exílio na Europa após a proclamação da República em 1889), viram ser hasteada na embarcação a nova bandeira. Quanta falta de imaginação e criatividade! A bandeira era exatamente igual à bandeira dos Estados Unidos, mas com as 13 listras horizontais nas cores verde e amarelo. Os deportados devem ter achado interessante que os militares e fazendeiros que depuseram a monarquia tivessem escolhido manter as cores que representavam na bandeira do Império, as famílias de Bragança e Habsburgo.
Poucos chegaram a hastear essa bandeira que o Barbosa inventou (plagiou). Em vez disso, nas províncias, conforme chegava a notícia da queda da monarquia, bandeiras locais era hasteadas, bandeiras que muitas vezes representavam antigas lutas e eram, afinal, os únicos símbolos republicanos que os brasileiros de cada região conheciam.
Acontece que os grandes artífices da proclamação da República, não eram republicanos que havia tempo lutavam por ideais republicanos. Quem proclamou a República eram antigos monarquistas (como Deodoro da Fonseca), que sempre defenderam a velha forma de governo, uma vez que ela os privilegiava. O Exército e os fazendeiros só resolveram proclamar a República depois da abolição da escravidão pela princesa Isabel, herdeira do trono.
As elites agrárias temiam o que poderia acontecer quando essa mulher assumisse de vez o trono (o que não tardaria, já que Dom Pedro II já estava idoso e doente). De fato, comprova a historiografia, Isabel desejava redistribuir terras, assentar ex-escravos (em vez de abandoná-los como indigentes). A princesa era a favor do voto universal, estendido a mulheres e pobres, que também passariam a ser elegíveis até mesmo para o Senado. A República Velha não propunha nada disso.
Poucos dias depois abandonaram a bandeira de listras e, em vez disso, fazer um grande remendo na bandeira do Império. Manteria-se assim o fundo verde e o losango amarelo, mas por cima do brasão dos príncipes costuraria-se uma bola azul.
Como todo bom maçom das antigas, os arquitetos da república tinham um fetiche por astronomia e resolveram retratar no círculo o suposto céu do Rio de Janeiro no dia da Proclamação. Mas na prática eles não sabiam nada das coisas do alto (só de armas, cavalos e agiotagem), por isso até hoje nossa bandeira carrega grotescas distorções de proporção, forma e localização das constelações retratadas.
Como a moda na elite era o positivismo mal lido (pois excluía os imperativos comteanos de “viver às claras” e “viver para os outros”) resolveram escrever na “nova” bandeira o lema dessa escola filosófica europeia (já em decadência por lá): AMOR, ORDEM E PROGRESSO.
Mas os fazendeiros e militares que planejaram essa república pelo jeito não gostavam de amor. Tiraram o amor dabandeira.
Aos 18 anos, somos obrigados a fazer o “juramento à bandeira”. Mas parece que é a bandeira e o estado que não estão cumprindo aquilo que nos prometem.
Nossa bandeira é vazia de sentido se não nos vemos como povo; se ela só nos une nos jogos de futebol; se não torcemos uns pelos outros, se não nos preocupamos uns com os outros. Assim, nada pode ser mais patriótico do que lutar contra o próprio estado se esse estado é inimigo das pessoas. Portanto antes de responder se tenho amorà bandeira, tenho que perguntar o que ela representa para quem pergunta. Aí sim posso dizer se amo ou não.