Há pouco mais de cem anos, o jovem advogado indiano Mohandas Karamchand Gandhi ainda não era “O” Gandhi, quando foi parar atrás das grades na África do Sul, por defender o direito das minorias hindus naquele país, ainda mais discriminadas que os próprios negros.
Na cadeia do país do Apartheid, Mohandas leu o ensaio que mudaria sua vida, um pequeno livro enviado a ele por correspondência por ninguém menos que o russo Leão Tolstói. A indicação de leitura era o clássico “A Desobediência Civil”, que o pensador Henry David Thoreau havia escrito depois de passar também uma temporadinha na cadeia por não aceitar ser cúmplice das injustiças de seu país.
Quando criança lembro de ter visto na capa de um livro uma máxima atribuída a Caio Graco: “Os livros não mudam o mundo. Os homens é que mudam o mundo. Os livros só mudam os homens”. Acho que é foi o caso. Uma correspondência entre Rússia e África com o texto de um autor estadunidense libertou a Índia do pesado domínio britânico, ou, pelo menos, ajudou a dar bases filosóficas para a liderança catalizadora de Gandhi.
Na cadeia do país do Apartheid, Mohandas leu o ensaio que mudaria sua vida, um pequeno livro enviado a ele por correspondência por ninguém menos que o russo Leão Tolstói. A indicação de leitura era o clássico “A Desobediência Civil”, que o pensador Henry David Thoreau havia escrito depois de passar também uma temporadinha na cadeia por não aceitar ser cúmplice das injustiças de seu país.
Quando criança lembro de ter visto na capa de um livro uma máxima atribuída a Caio Graco: “Os livros não mudam o mundo. Os homens é que mudam o mundo. Os livros só mudam os homens”. Acho que é foi o caso. Uma correspondência entre Rússia e África com o texto de um autor estadunidense libertou a Índia do pesado domínio britânico, ou, pelo menos, ajudou a dar bases filosóficas para a liderança catalizadora de Gandhi.
Ilustração feita com base em clichê ilustrativo de Henry David Thoreau, que escrevia diversos artigos contra a guerra e a escravidão nos EUA do Sec XIX |
É difícil achar homens de almas tão férteis como Gandhi por aí. Mas não custa tentar lançar sementes a esmo e torcer, “desenterrando” um autor que cai cada vez mais no esquecimento nas Américas, que precisa urgentemente ser redescoberto pela juventude.
Em 1817, quando o Henry nasceu, Massachusets ainda não era um estado tão populoso e ainda havia campos nos quais uma criança pudesse crescer se apaixonando pelo Planeta e pela Vida. Apesar de toda a erudição, muito do conhecimento e do caráter de Thoreau veio da Natureza. E se tem um valor que a Natureza é capaz de ensinar melhor que qualquer um, este é o amor pela Liberdade.
A frente de seu tempo, o homem que não suportava ficar trancado em salas levava seus alunos para passear no campo (no melhor estilo peripatético grego) e era completamente contra o uso de castigos físicos na Educação. A visão atrasada da educação dos pais da época fizeram com que não tivesse muito sucesso como professor. Talvez o que assustasse as autoridades escolares daquela época não fosse só a forma, mas também o conteúdo das ideias desse abolicionista.
Crítico da sociedade de seu tempo, vai morar no campo, numa cabaninha simples à beira do lago Walden, aprender sobre a vida, sobre as coisas que não precisa e sobre o que anseia de verdade. Lá escreveu “A Vida nos Bosques”, que não costuma faltar nas bibliotecas de anarquistas, ecologistas e até mesmo monges franciscanos.
Mas sua obra prima, que estava na cabeceira da cama de Tolstói, Gandhi, Martin Luther King Jr, Julian Assange e de hippies e outras criaturas cabeludas do pacifismo e contracultura dos anos 60: é “A Desobediência Civil” que ele escreveu em tempos de Guerra.
Nos EUA do Século XIX, com república e tudo, a escravidão ainda era uma mácula no país que se pretendia “Terra da Liberdade”. Os políticos do Sul, interessados em manter a escravidão, buscavam expandir a Federação, criando novos Estados que garantissem maioria do bloco escravista nas instancias deliberativas. Esse era um dos principais motivos da Guerra do México, em que os EUA tomaram à força e sem nenhuma justificativa moral metade do território do México. Nevada, Texas, Utah e a Califórnia que vemos nos filmes de Zorro, além de áreas que seriam anexadas a outros estados dos EUA eram parte do pacífico país latino que não tolerava a escravidão. Obviamente nos filmes estadunidenses do Zorro, a resistência a se anexar aos EUA será mostrada como motivada por desvios de caráter e ambição de autoridades locais.
Nos EUA do Século XIX, com república e tudo, a escravidão ainda era uma mácula no país que se pretendia “Terra da Liberdade”. Os políticos do Sul, interessados em manter a escravidão, buscavam expandir a Federação, criando novos Estados que garantissem maioria do bloco escravista nas instancias deliberativas. Esse era um dos principais motivos da Guerra do México, em que os EUA tomaram à força e sem nenhuma justificativa moral metade do território do México. Nevada, Texas, Utah e a Califórnia que vemos nos filmes de Zorro, além de áreas que seriam anexadas a outros estados dos EUA eram parte do pacífico país latino que não tolerava a escravidão. Obviamente nos filmes estadunidenses do Zorro, a resistência a se anexar aos EUA será mostrada como motivada por desvios de caráter e ambição de autoridades locais.
Thoreau decide parar de pagar impostos por discordar frontalmente tanto do escravismo quanto da guerra. A cadeia foi o preço que pagou por não querer pagar as balas que matavam inocentes.
Essa afronta ao Estado, sua recusa a pagar impostos, lhe valeu o rótulo póstumo de “Anarquista”, carregado de toda a carga pejorativa com que imprimem nesse termo afim de desqualificar pessoas “agitadoras”. Mas o adjetivo "anarquista" que não deve ser entendido como uma apologia à barbárie, ou à bagunça como geralmente se pensa. De pronto Henry explica que o que esperava para o momento era “um governo melhor”, isso é um governo justo e mais que democrático, que não pudesse ser manipulado por grupos particulares que usavam o Estado como mero instrumento para interesses próprios, como a imoralidade da manutenção da escravidão.
Essa afronta ao Estado, sua recusa a pagar impostos, lhe valeu o rótulo póstumo de “Anarquista”, carregado de toda a carga pejorativa com que imprimem nesse termo afim de desqualificar pessoas “agitadoras”. Mas o adjetivo "anarquista" que não deve ser entendido como uma apologia à barbárie, ou à bagunça como geralmente se pensa. De pronto Henry explica que o que esperava para o momento era “um governo melhor”, isso é um governo justo e mais que democrático, que não pudesse ser manipulado por grupos particulares que usavam o Estado como mero instrumento para interesses próprios, como a imoralidade da manutenção da escravidão.
Para Thoreau as minorias, até a minoria de um homem só, deveria ser respeitada em seus anseios e dignidade. Caso contrário um governo democrático “da maioria” não seria inteiramente justo (os escravos, por exemplo, eram “só” 1/6 da população dos EUA em 1848. Mas o fato de a maioria dos americanos concordarem com isso, não a tornava menos injusta.
Crianças egípcias se recusam a descer de tanque de guerra durante manifestações contra o regime autoritário de Mubarak em Janeiro de 2011. A desobediência civil pacífica foi eficaz. |
Na visão dele, o Estado é uma abstração, uma concessão coletiva que os homens fazem de parte de seu direito de se autogovernar. Criada convenientemente pelos homens, o Estado devia ser só um meio de garantir que os homens não se molestassem uns aos outros, mas não devia se tornar ele próprio o grande molestador. O melhor governo seria aquele que menos governasse e se fizesse notar. Em exemplo prático: o melhor Estado não é o que tem muita polícia, mas aquele de uma sociedade tão justa em que não há tantas tensões sociais de modo que se posso prescindir cada vez mais da polícia.
Thoreau morreu aos 45 anos. Mas é eterno. E deixa como lição a ideia de que as grandes transformações sociais nascem de grandes transformações individuais, manifestas inclusive em atitudes de recusa a um estilo de vida predatório e à obediência.
____________________________________________________________________________
Pra quem quer +
Leia também neste blog:
O velho de barba branca (e bandeira preta)
sobre Piotr Kropotkin
sobre Mahatma Gandhi (altamente influenciado por Thoreau, Tolstoy e Jesus)
sobre dois arquétipos muito vivos nas "esquerdas" brasileiras e o potencial satyagrahi dos bem-humorados brasileiros #GenteDiferenciada
Documentário: "Chico Mendes: cartas da floresta", sobre o líder seringueiro campeão da Resistência Pacífica no Brasil. Lutou pela floresta e pelos homens, numa atitude de rebeldia contra o abuso do Capital e do Estado, mas sem ações de violência contra a vida humana.
Clipe: "Désobéissance Civile" (LEGENDADO)
da rapper francesa Keny Arkana, integrante do coletivo musical anarquista "A Raiva Do Povo" (ou La Rage du Peuple) uma das vozes do Hip Hop nas ocupações e levantes europeus
Frases e pensamentos de Henry David Thoreau
"Muitos sabem ganhar dinheiro, mas poucos sabem gastá-lo
"Nunca é tarde para abrirmos mão dos nossos preconceitos"
"A bondade é o único investimento que nunca vai à falência"
"Cuidado com todas as actividades que requeiram roupas novas"
"Como se fosse possível matar o tempo sem ferir a eternidade"
"Existem 999 professores de virtude para cada pessoa virtuosa"
"É preferível cultivar o respeito do bem que o respeito pela lei"
"Qualquer idiota pode fazer uma regra e qualquer idiota a seguirá"
"Muitos homens iniciaram uma nova era na sua vida a partir da leitura de um livro"
"Benditos os que nunca lêem jornais, porque verão a Natureza e, através dela, Deus"
"São precisas duas pessoas para falar a verdade, uma para falar, e outra para ouvir"
"Um homem é rico na proporção do número de coisas de que ele é capaz de abrir a mão"
"Sob um governo que prende injustamente, o lugar de um homem justo também é na cadeia"
"A bondade é o único investimento que sempre compensa."
"Os homens hão-de aprender que a política não é a moral e que se ocupa apenas do que é oportuno"
"Se um homem marcha com um passo diferente do dos seus companheiros, é porque ouve outro tambor"
"Se você já construiu castelos no ar,não tenha vergonha deles. Estão onde devem estar. Agora dê-lhes alicerces."
"Você deve viver no presente, lance-se em cada onda, encontre a sua eternidade em cada momento."