Facilito esse evento nessa terça-feita (16/07) em São Paulo, A partir das 17 horas..
Por hora, pego emprestado o nome grego de "Peripatética" para definir essa proposta de dinâmica horizontal de contação da História.
Acontece no acampamento do #OCUSP, que fica ali atrás da Praça da Sé, na Praça João Mendes, em frente ao Fórum.
HISTÓRIA E ESTÓRIAS: Vamos compartilhar e socializar esses tesouros dos ancestrais.
#escoladerua #peripatética #OSaciAcordou
https://www.facebook.com/events/207606142729627/
segunda-feira, 15 de julho de 2013
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Se tenho amor à bandeira?
texto publicado em 2012 no Jornal do Povo (RS) abre o debate sobre patriotismo e conta um pouco da história da bandeira nacional brasileira. Você sabia por exemplo que o verde e o amarelo representam as famílias de Bragança e Habsburgo.
Antes de amar a bandeira, eu amo o irmão Tamanduá Bandeira,Myrmecophaga tridactyla, compatriota com seu habitat ameaçado |
Se tenho amor à bandeira? (Parte 1)
Se amo a bandeira?
Se eu sou patriota?
Que quer dizer isso?
Se eu amo e me sinto filho dessa terra? Como não?! Amo demais... Um amor além de linhas artificiais. Amo tanto tanto, que nem chamo de Brasil. Ficou meio pejorativo... Filho não chama pai e mãe de nome civil formal, ainda mais se for exodenominação. Qualquer bandeira que fira a face da mátria é uma bandeira estrangeira. Mas, ainda que chamem de Brasil, tudo bem... não importa, ainda amo. Você é Brasil? OK, então eu também sou Brasil. Então amo o Brasil. Acontece que esse querer bem já se expandiu e transcendeu... de modo que eu não chamo mais as pessoas que compartilham esse pedaço de Terra comigo de compatriota... Antes, eu chamo de irmão.
Irmão outro, e irmã outra. Irmão Beija-flor. Irmã Copaíba. Irmã Aroeira. Irmã Canela-de-ema. Irmã ela. Irmão leitor do JP. Irmão militar. Irmão com mais e com menos de 30... dentes e anos. Irmão indígena. Irmão em situação de rua. Irmão rio. Irmão Jacuí. Irmão Sapucaí. Irmão Tietê. Irmão Grande. Irmão Xingu. Irmão Amazonas.
Irmã água. A água é uma só. Não nascemos só na mesma Terra, também compartilhamos a água. De modo que não importa em que rio brincamos quando éramos crianças. De modo que não importa que de que rio veio a água que nos nutria enquanto crescíamos. Não importa qual água, por que a água é uma só. Desde os tempos antigos. A maior parte de nós é água. Eu já brinquei em você. Você já me lavou. Já brindamos o sangue dos dinossauros. Ou quem sabe tomamos o sangue de Cristo com café. O suor de algum Adão africano das cavernas com o pão com geleia. E se a água é uma só, qual é minha pátria? Água não é mais que sangue? O que evapora no Jordão pode chover no Ganges ou São Francisco. E vice-versa. E versa-vice, “visse”?
Também quando eu respiro. A cada tragada de ar eu não pergunto: “qual foi a árvore que lançou essa ou essa outra molécula de oxigênio que me enche de vida?”. Eu simplesmente agradeço e amo sem ver. E chamo de compatriota. E mais que isso chamo de irmã. Irmã brisa, irmã alga ou árvore desconhecida.
Então será que eu sou patriota.
Se somos compatriotas? Como não, se além de filhos de uma mesma terra sem limites somos filhos de uma mesma historia, digamos assim.. brasileira.
Ser patriota é amar a coisa ou os símbolos da coisa? O que é mais importante: a pessoa ou o nome da pessoa? Conteúdo ou rótulo? Significante ou significado?
O que é ser patriota. Amar a bandeira? Ou amar o Brasil? Que é amar o Brasil? É amar a bandeira? Ou é amar o que ela significa. O que ela significa mesmo? O verde é uma herança da cor da casa imperial de Bragança? Ou devo acreditar que o verde significa nossas matas virgens imaculadas, nossa riqueza natural? Nosso verde mais valioso que as verdinhas... sem preço, mas de valor imensurável?
Se o verde significa a vida da nossa Terra, sim, eu amo esse verde, em seu significado mais elevado, mais transcendental. O que torna tudo um épico, mais que uma mera discussão sobre a constitucionalidade do novo Código Florestal ou viabilidade de Belo Monte.
Sei que não sou o único “compatriota”, também “comMatriota”, que se sente assim... meio Arjuna Tupiniquim... Guarani, Tupinambá. Mesmo na satyagraha, como não se entristecer ao ver irmãos do outro lado do campo de batalha? Por puro engano. Essas coisas acontecem... é universal. Lucas 12:51-53, Mateus 10-34, Tomé 16 soam junto com os primeiros acordes da Gita, que ecoam sempre. Agora, ao som de maracás e flautas xinguanas.
Vamos lá... nosso verde e amarelo. Parecem estar em guerra hoje o verde contra o amarelo. Ou será que o amarelo já foi todo levado? Que isso então? Que sou eu então? Mesmo sabendo que as linhas reais são os rios (e que esses só unem, sem jamais dividir), segundo o mapa de linhas imaginárias políticas eu sou um brasileiro paulista parido e registrado na região de cerrado.
Ora! Como macaco sapiens curioso, sei que só resta 1% do cerrado paulista. Certo. E se o em nome do Brasil decidem matar o chão, toda a vida da terra, deixando tudo cinza na Terra e no Céu? Como não lutar contra o Brasil se o Brasil é contra o Brasil? Se é o único jeito de lutar pelo Brasil? Se em nome da bandeira verde querem matar o que resta de verde de verdade?
Se amo a bandeira? Antes disso, eu amo o irmão tamanduá bandeira. (continua).
A anta (Tapirus terrestris), juntamente com os índios
(Homo sapiens sapiens), era (é) um dos principais
dispersores de sementes e mantenedores da vida
em todos os biomas brasileiros.
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Se tenho amor à bandeira? (2)
O que eu amo existe antes de bandeiras e bandeirantes
O Brasil não conhece o Brasil. O Brasil nunca foi ao Brasil. O Brasil não vê nem ouve o Brasil por que está assistindo televisão. Reflito sobre essas coisas enquanto o p(r)o(f)eta João Nogueira está “Chorando Pela Natureza” da caixinha de som do meu computador, já onde estou não dá mais para ouvir os passarinhos.
Ah se o Brasil soubesse... Os sobreviventes de todas as épocas futuras (se houverem épocas futuras) desejariam mudar seu pretérito imperfeito se pudesse. Se houvesse como... se pudessem já teriam(ão) feito. Se Tivessem a tecnologia (que provavelmente jamais teremos) certamente nossos “compatriotas” ou algum outro herdeiro da condição humana já teria pego uma máquina do tempo e vindo para cá, para esse exato espaço-tempo em que estamos, para fazer alguma coisa. Ou antes.
Não quero ser estraga prazeres. Mas como numa ilha de náufragos, alguem uma hora deve perguntar: “e se o resgate não vier?”. Ninguém de nenhum outro tempo ou lugar chegará para assumir as responsabilidades históricas que cabem a nós, os vivos, os ocupantes da espaçonave Terra NESSE tempo... Talvez não devêssemos levar ao pé da letra a canção que diz que “um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante”.
Então... “Talita cumi”. “C'mon, girl”. “Acorda, menina linda!”. “Despierta mi bien despierta”. “É nóis!”. “Debout, les damnés de la terre”.
Os do futuro desejariam poder tomar parte nesse processo, nessa luta, de hoje, de quando ainda “havia”(há) 4% da Mata Alântica; Essa luta de hoje quando ainda “dava” tempo de reflorestar (em vez de desmatar) as matas ciliares dos últimos rios dos pampas, evitando que secassem; Essa luta de hoje quando as hidrelétricas ainda não inundaram a Amazônia; Essa luta de hoje quando ainda a fumaça e as luzes artificiais não impedem as estrelas e outras coisas celestiais de serem vistas do meio da floresta.
Eles certamente gostariam de voltar... Não porque hoje ainda temos Capitalismo, mas por que ainda temos água.
Voltar para antes de o Estado Brasileiro, contra a Terra e as pessoas que diz representar, autorizar os mais gananciosos e frios homens dessa terra destruírem o que resta de vida e de segurança ambiental última. De tão prepotentes, se acham os “donos” da Terra; de tão mentirosos, convenceram quase todo mundo disso. E dessa mentira e consequente apatia, resulta muito sofrimento e morte.
Mas o que poderiam fazer se voltassem, essa gente de outro tempo (do futuro ou do passado)? Levantar cartazes? Admoestar pessoas gritando na esplanada em Jerusalém? Ou num palanque na Rússia? Que poderiam fazer? Fundar escolas filosóficas? Votar? Usar “combustível verde”? Pff... O que poderiam fazer? Separar seus restos de embalagens de seus restos de coisas mais aparentemente nojentas e ficar com a consciência tranquila? O que poderiam fazer? Escrever um artigo no jornal tentando argumentar sobre por que a água é importante para a vida (o que de fato até plantas e amebas sabem)? Ou sobre como jogar veneno no aquífero é ruim? Sobre como sem árvores nascentes secam e ocorre assoreamento de margens? Que fariam? Replicaria mais uma vez nas redes sociais infográfico sobre as alterações do código florestal? Implorariam de joelhos pra cada vivente parar e refletir um pouco? O que viajantes no tempo fariam para evitar o colapso da Biosfera? Uma grevezinha por melhores salários?
Dentre as mentiras inventam para cobrir outras mentiras, a última do nosso tempo é: “O mundo passa por uma crise econômica conjuntural, mas o Brasil está 'bombando' e no fim vai ficar tudo certo com o mundo e a gente ainda vai estar por cima da carne seca... E consumindo!”.
Não. Não é uma crise econômica. Não é nem mesmo uma crise do Sistêmica. A questão é bem mais que Capitalismo X Comunismo, o FlaFlu geopolítico do século passado. Tudo isso há de ser ruína pois a crise não é CIVILIZATÓRIA (ou mais grave ainda).
O que emerge de um mundo pós-industrial, pós-globalização? Ora algo assim, dessa dimensão, jamais aconteceu antes. Pelo menos não que a História se lembre...
Sei que já vivemos sem petróleo. Já vivemos sem muita muita coisa. Mas nunca vivemos sem água.
Há desertos que nem sempre foram desertos. Não falo só dos grandes jardins abundantes em vida que haviam às margens dos irmãos Tigre, Eufrates, Fison e Geon. Mas eu, com pouco menos de 30, lembro de ver cerrado, córrego, vagalume, seriema... onde hoje só resta 1% do bioma original. Pareço alguem já muito idoso falando.
E não é só o bairro, só uma região. Pela janela de ônibus e caronas, por centenas e centenas de quilômetros, até aonde a vista alcança é pura cana-de-açúcar. Lugares por onde já passei, onde já vivi. E sei: Havia um cerrado ali. Havia um riozinho ali. Plantavam comida ali. Agora há monocultura. Para que as pessoas possam ir para seus trabalhos de carro, para ganhar dinheiro, para pagarem o carro, para irem ao trabalho... Num falso eterno presente. Numa morte em vida em que o sujeito vive todos os dias o mesmo dia... Desejando e sofrendo por coisas que não as tornarão felizes... Numa roda de hamster com uma cenoura amarrada à frente da vista tal qual um pangaré de desenho animado.
Talvez a pergunta do momento não seja então “Tens amor à bandeira?”. A bandeira é um objeto. Ou talvez seja um desenho. Tanto buda quanto Hitler adoravam uma suástica. Tanto o Vlad III histórico quanto Francisco de Assis adoravam uma cruz. A pergunta então deveria ser: Em verdade, “de que lado você samba?”
E então, Nelson Cavaquinho começa a cantar que “O sol há de brilhar mais uma vez; a luz há de chegar aos corações...”
legenda: Os Homo sapiens (foto) chegaram ao continente Sulamericano há pelo menos 40 mil anos e se desenvolveram por milênios de maneira completamente harmônica com o meio ambiente e os outros seres até o século XVI.
Se tenho amor à bandeira (3)
Amor é justamente o que está faltando nela
O patriotismo se tornou o argumento preferido dos covardes. Esse principio é evocado com cinismo quando se quer justificar o injustificável. É a maneira mais barata de evitar o debate, de desqualificar o interlocutor e manipular a opinião pública. Diz-se “é melhor para a nação” e pronto, justifica-se tudo, sem se questionar se a tal pauta é mesmo melhor pra a nação, nem o que e nem quem é a Nação. E fim de papo.
Nos EUA, sempre que os aristocratas do petróleo ou os grandes acionistas da indústria bélica querem fazer mais uma guerra sem sentido apelam para o nacionalismo. Usam propaganda, manipulação de mídia e chamam quem questione a guerra de traidor ou antipatriota. Aconteceu no Vietnã, aconteceu nas Guerras Búshicas dos anos 2000.
No Brasil, o apelo ao nacionalismo burro tem aparecido bastante no discurso de quem quer justificar todos os absurdos e abusos como a proposta de mudança do Código Florestal. Dizem que o novo Código vai ser bom para todos pois “o Brasil vai exportar mais”. Dizem ainda que quem é contra mudar o código é contra o país e estaria trabalhando pelo interesse de estrangeiros. Ora, mas até onde se sabe, “de fora” não são a pessoas que estão lutando contra o código, mas sim a Bunge, a Cargil, a Monsanto e outras empresas de transgenia e veneno aliadas dos ruralistas.
E de qualquer modo, se “o Brasil exporta mais”, quem está exportando é o monocultor, não o Brasil. Esse dinheiro não vai ser distribuído a todos. Quanto ao oxigênio que as florestas liberam na atmosfera, esse sim, beneficia a todos.
Não, não é bom para Brasil permitir que destruam as Áreas de Preservação Permanente. Se estiver mesmo faltando espaço para plantarmos alimentos, é por que tem muito latifúndio, não muita floresta. As grandes propriedades são apenas 15,6% dos imóveis mas ocupam 75,7% das terras agricultáveis. Ainda assim, são os agricultores familiares (donos das menores propriedades) que produzem a maior parte do alimento e mais empregam no campo. O brasileiro não come cana e soja com eucalipto no almoço e jantar.
Contradições não são novidade por aqui.
Imagino o que se passou pela cabeça de Dom Pedro II, e de sua filha Isabel quando, no navio Alagoas (que os levou para o exílio na Europa após a proclamação da República em 1889), viram ser hasteada na embarcação a nova bandeira. Quanta falta de imaginação e criatividade! A bandeira era exatamente igual à bandeira dos Estados Unidos, mas com as 13 listras horizontais nas cores verde e amarelo. Os deportados devem ter achado interessante que os militares e fazendeiros que depuseram a monarquia tivessem escolhido manter as cores que representavam na bandeira do Império, as famílias de Bragança e Habsburgo.
Poucos chegaram a hastear essa bandeira que o Barbosa inventou (plagiou). Em vez disso, nas províncias, conforme chegava a notícia da queda da monarquia, bandeiras locais era hasteadas, bandeiras que muitas vezes representavam antigas lutas e eram, afinal, os únicos símbolos republicanos que os brasileiros de cada região conheciam.
Acontece que os grandes artífices da proclamação da República, não eram republicanos que havia tempo lutavam por ideais republicanos. Quem proclamou a República eram antigos monarquistas (como Deodoro da Fonseca), que sempre defenderam a velha forma de governo, uma vez que ela os privilegiava. O Exército e os fazendeiros só resolveram proclamar a República depois da abolição da escravidão pela princesa Isabel, herdeira do trono.
As elites agrárias temiam o que poderia acontecer quando essa mulher assumisse de vez o trono (o que não tardaria, já que Dom Pedro II já estava idoso e doente). De fato, comprova a historiografia, Isabel desejava redistribuir terras, assentar ex-escravos (em vez de abandoná-los como indigentes). A princesa era a favor do voto universal, estendido a mulheres e pobres, que também passariam a ser elegíveis até mesmo para o Senado. A República Velha não propunha nada disso.
Poucos dias depois abandonaram a bandeira de listras e, em vez disso, fazer um grande remendo na bandeira do Império. Manteria-se assim o fundo verde e o losango amarelo, mas por cima do brasão dos príncipes costuraria-se uma bola azul.
Como todo bom maçom das antigas, os arquitetos da república tinham um fetiche por astronomia e resolveram retratar no círculo o suposto céu do Rio de Janeiro no dia da Proclamação. Mas na prática eles não sabiam nada das coisas do alto (só de armas, cavalos e agiotagem), por isso até hoje nossa bandeira carrega grotescas distorções de proporção, forma e localização das constelações retratadas.
Como a moda na elite era o positivismo mal lido (pois excluía os imperativos comteanos de “viver às claras” e “viver para os outros”) resolveram escrever na “nova” bandeira o lema dessa escola filosófica europeia (já em decadência por lá): AMOR, ORDEM E PROGRESSO.
Mas os fazendeiros e militares que planejaram essa república pelo jeito não gostavam de amor. Tiraram o amor dabandeira.
Aos 18 anos, somos obrigados a fazer o “juramento à bandeira”. Mas parece que é a bandeira e o estado que não estão cumprindo aquilo que nos prometem.
Nossa bandeira é vazia de sentido se não nos vemos como povo; se ela só nos une nos jogos de futebol; se não torcemos uns pelos outros, se não nos preocupamos uns com os outros. Assim, nada pode ser mais patriótico do que lutar contra o próprio estado se esse estado é inimigo das pessoas. Portanto antes de responder se tenho amorà bandeira, tenho que perguntar o que ela representa para quem pergunta. Aí sim posso dizer se amo ou não.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
O gigante sonha que acordou e pode ser golpeado (ou “Como a Globo virou o jogo”)
por Leandro Cruz
Na novela das dezoito horas, Flor do Caribe, a Aeronáutica é mitificada; e adolescentes que sempre dormiram na aula de História (ou não tiveram acesso à educação) tatuam o emblema da cobra fumando em seus bracinhos magrelos. Os militares também apareceram como redentores da sociedade na recém-encerrada novela, Salve Jorge, das 21 horas. Em Salve Jorge, o exército, de modo especial a cavalaria, foi elevado a um patamar inédito no imaginário popular. Foi uma propaganda do tipo “Aliste-se Já!” que durou meses.
Na novela das dezoito horas, Flor do Caribe, a Aeronáutica é mitificada; e adolescentes que sempre dormiram na aula de História (ou não tiveram acesso à educação) tatuam o emblema da cobra fumando em seus bracinhos magrelos. Os militares também apareceram como redentores da sociedade na recém-encerrada novela, Salve Jorge, das 21 horas. Em Salve Jorge, o exército, de modo especial a cavalaria, foi elevado a um patamar inédito no imaginário popular. Foi uma propaganda do tipo “Aliste-se Já!” que durou meses.
Um “golpe branco” (ou mais escuro se for preciso), como plano de contenção vem sendo preparado pelo alto escalão do Exército em parceria com os ruralistas e corporações (dos ramos de energia, comunicação, mineração e armas) conforme atestam, como provas históricas, o artigo da senadora Kátia Abreu (PSD), de outubro de 2011, intitulado “Constituinte em tempos de paz” e o discurso do general Enzo no dia do exército (19 de Abril) de 2012. O general Enzo dizia estar atento à conjuntura e antevendo o que estaria por vir: “Visualizo tempos desafiadores. O Brasil cada vez mais precisa do seu Exército com capacidade de dissuasão e pronta resposta”, disse há pouco mais de um ano.
Antes disso, irritada com a demora para da tramitação do novo Código (anti)Florestal, a senadora Kátia Abreu escrevia considerar que "Há muita coisa na Constituição que se tornou um obstáculo a uma gestão racional do Estado e ao equilíbrio entre direitos e deveres". Segundo ela "As ideias dominantes sobre o funcionamento do Estado, da economia e da sociedade no Brasil de 1988 já não existem mais, não servem mais.(...), precisamos de um Estado muito diferente do que foi cristalizado pelas ideias da Constituição brasileira."
Por que esse grupo planejaria uma ruptura institucional se tais grupos já se encontram no poder, controlando o Senado, determinando a política de terra, energia e até as intervenções militares em terras indígenas? As eleições de 2010 já haviam demonstrado a nascente influência das redes sociais no processo político brasileiro. Além disso, motivados pela revolta engasgada com as injustiças sociais e a violência policial, jovens do Norte da África e Oriente Médio se mostravam capazes de organizar processos de revolução e insurgência de uma hora para outra. O exemplo poderia se espalhar, como se espalhou, para além do mundo árabe, e a América Latina, com suas mazelas históricas, sempre foi campo fértil para corações rebeldes. É preciso lembrar que o principal fator deflagrador da Meia Revolução Egípcia de 2011 foi a extrema violência e injustiça das ações policiais contra os cidadãos, problema que no Brasil também é endêmico.
É preciso que levemos em conta os planos expansionistas da poderosa bancada ruralista de Kátia Abreu, que sonhava com a aprovação do novo Código Florestal Brasileiro ainda em 2011, o que sabiam que não poderiam fazer sem oposição. Mesmo que a comunidade científica brasileira tenha alertado e tenha desagradado parte da população, a pequena parte que de alguma forma acompanhou os debates sobre esse tema, o Código foi aprovado sem que esse fosse o estopim para um levante civil contra o sistema político falsamente representativo, onde a classe política representa apenas aos seus interesses e aos de seus patrocinadores.
O Brasil perdeu, numa emenda só, 22 milhões de hectares de mata nativa, o equivalente ao estado do Paraná, ou 22 milhões de campos de futebol. Com as novas regras, pessoas que já eram extremamente ricas e donas de áreas enormes, poderão desmatar ainda mais perto de beiras de rios, encostas e etc., prejudicando a todos, já que assim perderemos consequentemente boa parte de nossas nascentes de água, de nossa biodiversidade e da capacidade do planeta de produzir oxigênio, e limpar o ar que a civilização industrial polui. Se uma chuva de bombas nucleares lançado por alguma potência estrangeira tivesse causado tamanho impacto concentrado e de uma só vez, talvez a população do Brasil e do mundo tivesse se chocado e se levantado de fato contra alguém que fizesse uma barbaridade dessas. No entanto, a alienação causada pelo estilo de vida urbano e a televisão, que distrai o povo com outros assuntos menos importantes, foram mais do que suficientes para apaziguar a população.
Devemos lembrar que as pessoas ainda não haviam chegado ao seu limite de endividamento e a febre do consumo era acelerada por desonerações, pequena queda nos juros e perspectiva de geração de emprego devido às obras dos eventos esportivos anunciados. Enquanto podiam trocar de celular e baixar os hits das novelas para lhes servir de despertador, as pessoas não se empolgaram em ir para as ruas pela água que vai faltar a seus filhos.
Mas a qualquer momento a bomba das revoltas populares poderia estourar e por isso Katia Abreu já exigia sua “Constituinte em tempos de paz” e general Enzo antevia “tempos desafiadores”. Ao que parece, esses dois setores da sociedade, Exército e latifundiários, já tem pelo menos desde 2011 um projeto de Estado pronto para caso fosse deflagrada uma crise institucional por qualquer razão que fosse. Trata-se de uma estratégia antiga no Brasil, o poder de fato promover quantas mudanças institucionais necessárias no Estado aparente para manter a ordem social e política como está. Tal prática encontra diversos exemplos históricos, como a própria proclamação de Independência e a fundação da República, conforme analisei em meu ensaio ‘Uma revolução ou reforminha para chamar de sua” *.
O poder econômico tomou 100% do controle do processo político brasileiro, alienando a sociedade de esfera de decisões, conforme bem analisa o Manifesto OcupaSampa (outubro de 2011), marco na história dos movimentos autônomos (redigido coletivamente debaixo do viaduto do chá na Zona Autônoma do levante satyagrahi que durou mais de 40 dias e chegou a reunir mais de mil pessoas no Vale do Anhangabaú).
O próprio Sarney, o coronel eletrônico, presidia a comissão de reforma política que houve no Congresso no mesmo ano de 2011. Sim, o mesmo ex-aliado da ditadura que presidiu o Brasil durante o processo conhecido como “Abertura Democrática” nos anos 80.
Para ser claro e direto: Um projeto de reforma institucional do Estado, que não responde aos anseios democráticos da população, está sendo preparado há pelo menos dois anos pelas classes dominantes. Os discursos da Senadora, dos militares e das novelas não deixam dúvidas para isso.
Televisão Arma de Guerra
E a Globo, onde entra? Entra onde sempre esteve. O jornal O Globo foi decisivo para que o golpe de 64 acontecesse. Um ano após a instalação do regime de exceção a Rede Globo de Televisão era fundada pelos militares e pelo jornalista Roberto Marinho, o “Cidadão Kane brasileiro”. Em pouco tempo, cobriria praticamente todo o território nacional, chegando a mais de 99% dos lares brasileiros. O objetivo era ser uma espécie de porta-voz do regime, exaltando os projetos de desenvolvimento dos militares (por mais superfaturados e absurdos que fossem) e omitindo tanto a corrupção quanto as mazelas sociais do país. A função da Globo sempre foi dissimular, enganar, manipular a população em favor das classes dominantes, que controlavam o governo por meio da junta militar.
Para se ter uma ideia da atuação da Globo, em 1984, quando a sociedade civil começava a se organizar e sair às ruas para pedir eleições diretas e livres, o Jornal Nacional exibiu cenas do mega-comício pelas Diretas Já (no Vale do Anhangabau) dizendo se tratar de um evento em comemoração ao aniversário de São Paulo.
Com o boicote da televisão, numa época onde ainda não existia internet nem redes sociais, o movimento pelas Diretas não se viralizou tanto e a campanha acabou não saindo vitoriosa. O primeiro presidente civil em décadas viria a ser eleito indiretamente pelo congresso. Esse presidente, Tancredo Neves, não chegaria a assumir, já que após uma entrevista com uma famosa jornalista da Globo, caiu doente inexplicavelmente e veio a morrer pouco depois. Quem assumiu foi o oligarca maranhense José Sarney, velho aliado da Ditadura (e de quem estava por trás dela).
Sarney comandou o país durante a transição e a Assembleia Constituinte de 88, durante esse tempo tratou de estabelecer as bases de uma nova forma de dominação de modo a manter o poder dessas oligarquias mesmo com eleições presidenciais. As concessões de TV foram a fórmula precisa para isso conforme analisei também no quarto capítulo do meu livro (Capitalismo: Religião Global – CC – 2013).
“Como os minérios do subsolo e rios, o espectro eletromagnético, por onde passam as ondas AM, FM, UHF e VHF, é um recurso natural finito. Finito, pois a quantidade de faixas de onda, que atravessam o espaço, é limitada. A distribuição do direito de exploração, concessão pública, desse recurso natural, o espectro eletromagnético, no entanto, segue critérios políticos.
Rádio e TV são serviços públicos. Ninguém pode ser “dono” de uma faixa do espectro eletromagnético, pois ele é de todo mundo, pois passa por todo mundo. Através de nossas células correm ondas eletromagnéticas, mesmo que não estejamos vendo, com as ondas das novelas, jogos de futebol e toda a tele-evangelização possível. Tecnicamente, Globo, SBT, Record e Bandeirantes estão prestando um serviço público. O problema é que as concessões são sempre renovadas e não é exigido praticamente nada dessas emissoras em contrapartida. Nada além de sustentação política”.
Ao longo das últimas décadas, a media televisiva tem feito seu papel. Existe, no entanto, um distanciamento enorme entre a realidade e a realidade MEDIAda. Isso acabou ficando claro com as manifestações, quando se contrastou claramente a voz da TV que diz que no Brasil vai tudo bem e a voz das ruas que sabe que tudo vai mal.
Quando se dita uma suposta “Realidade Nacional” é possível mentir sobre todo o resto. Só quem vive no “faroeste” do Pará (e olhe lá) sabe dos conflitos no Pará; só quem vive os conflitos nas periferias de São Paulo sabe que há uma guerra civil na madrugada há muito tempo. A TV diz para as aldeias da floresta e para as quebradas das megalópolis que o Brasil vai bem, que cada um está sozinho nas suas angustias. O Brasil é um império televisivo.
A jornal noturno da TV Bandeirantes, por exemplo, trata latifundiários que grilaram terras indígenas como vítimas dos índios. Uma reportagem exibida dias antes das explosões das manifestações nessa rede que se tornou a porta-voz do agronegócio começava com um close nos olhos do fazendeiro chorando, e não mostrava ou ouvia um índio sequer. Os índios eram descritos como uma ameaça à “economia do país”. Tudo uma grande mentira, os índios são responsáveis pela manutenção e proteção da biodiversidade, além de deterem o conhecimento ancestral sobre as plantas que podem salvar muitas e muitas vidas por aqui e pelo mundo sem necessidade de dependermos de multinacionais estrangeiras. Se fosse dado o devido respeito e pesquisa para fins públicos universais, só a medicina indígena poderia gerar remédios para tantos males que fariam decair enormemente inclusive nossos gastos com saúde. No Peru, por exemplo, clínicas em que xamãs trabalham junto com médicos têm atingido os maiores índices de recuperação de dependentes químicos viciados em crack e cocaína. Enquanto no Brasil não temos tratamento para essas pessoas e gastamos fortunas com polícia e balas contra elas, os “nóias”, os leprosos de nosso tempo.
Quem perde com as retomadas feitas pelos índios são os latifundiários, os grandes proprietários de terra, que não produzem alimento, mas apenas commodities para serem exportadas para a indústria, seja da China ou dos EUA, como etanol e óleo de soja. Enquanto isso, o preço dos alimentos dispara pois as vastas planícies de dimensões continentais continua pertencendo às mesmas famiglias que também concentram torres de TV e cadeiras no Senado.
A TV e o levante popular
Torcedoras exibem cartaz distribuído pela Globo. Emissora convocou telespectadores a aderirem a protestos do dia seguinte defendendo a Copa no Brasil |
Quando os repórteres e fotógrafos da mídia impressa voltaram para as redações com olhos roxos e testas sangrando após a violenta e inconstitucional repressão policial à quinta manifestação contra o aumento do transporte, a mídia não pode mais se omitir nem ridicularizar. A Força da Verdade** venceu e conseguiu que governos de diversas cidades e estados revogassem o aumento das passagens, inclusive em cidades onde não haviam ocorrido, ainda, manifestações.
Essas vitórias populares inspiraram uma série de outros protestos, por diversas coisas, que encontraram, sim, um ponto comum, ou ao menos um alvo simbólico: a Copa do Mundo. Esse era o inicio do despertar para a realidade de que a Indústria do Espetáculo tem uma forte importância na manutenção da ordem política social. Isso fica claro para muitos que não encontram serviços públicos de qualidade, como um hospital num momento de emergência, enquanto essa gente vê o governo gastar bilhões com a construção das arenas da Copa do Mundo e Olimpíadas. Isso é ainda mais claro para aquele que é expulso de suas casas por soldados de seu próprio Estado, que derruba seu bairro para a construção de hotéis ou vias de acesso aos estádios.
A Globo e a Fifa sabiam que ia chegar nela. Com o descredito da Globo, todo o resto apareceria. Que faz então o grupo Roberto Marinho? Se não pode vencê-los, junte-se a eles. A Globo passa a “apoiar” os protestos, mas tenta direcioná-lo, usando a Copa do Mundo a seu favor, para criar uma agenda nacionalista e canalizar a fúria popular para apenas a classe política. Por classe política, entenda-se os profissionais que defendem os interesses de quem lhes paga mais.
O objetivo era impedir que os protestos chegassem a questionar a estrutura agrária e também os latifúndios eletromagnéticos (as grandes concentrações de concessões de rádio e TV na mão de um pequeno grupo privado).
No dia do primeiro jogo do Brasil na Copa das Confederações, enquanto manifestantes que pediam moradia, fim da violência policial, cancelamento da Copa apanhavam de soldados do lado de fora dos estádios, a câmera focalizava torcedores de classe media alta (os únicos que podem comprar ingressos FIFA) com cartazes do tipo: “Esse protesto é contra a corrupção e não contra a seleção” E divulgavam a hashtag #OGiganteAcordou. A tag conduzia a diversos conteúdos nacionalistas com um discurso contra a corrupção, de modo especial aos escândalos que atingem o governo federal.
Nos dias seguintes as televisões passam a mostrar o caótico caldeirão de insatisfação que toma as ruas como divididos em dois grupos: os “cívicos”, que cantam o hino nacional e apoiam a seleção, e do outro lado os vândalos.
A ênfase maior é nos vândalos. Eles ganham mais espaço nos noticiários da TV aberta com alguns objetivos muito específicos: justificar a ação da polícia, criminalizar as manifestações que questionem a agenda do grupo dominante.
A estratégia da classe dominante agora é criar instabilidade institucional, dividir o povo o quanto puder, identificar eventuais líderes (para coopta-los ou elimina-los via prisão, morte ou qualquer outro meio) e, garantir que a ruptura institucional não atinja o âmago da origem de nossos problemas, nossa estrutura social, mais do que nossa própria ordem jurídica que apenas a legitima.
O fim da concentração dos meios de produção, seja de bens materiais seja de bens simbólicos, deve ser o foco desse levante popular, que, embora não seja anarquista, é anárquico e só por isso tem também alcançado vitórias.
O Gigante pensa que acordou. O que quer que venha a ser feito precisará de legitimação popular, o que nos coloca no meio de uma verdadeira “guerra simbólica”, como previu Hakin Bey.
Guerra simbólica
Guerra simbólica: BM dispersa manifestantes que atacaram mascote da Copa financiado pela Coca-Cola em Poa |
Essa é, no entanto, uma geração sem muita referência, e muito desconhecimento sobre sua própria História e Geografia (o sucateamento proposital da educação das ciências humanas fez isso com eles; eles não têm culpa). Existem muitos jovens indignados nas ruas, com uma justa fome e sede de justiça, mas que podem ser facilmente cooptados por grupos e ideologias da extrema direita, como os carecas fascistóides que espancavam qualquer um que estivesse trajando vermelho nas últimas marchas na Avenida Paulista.
Alguns passos da Guerra Simbólica
Muitos lances curiosos têm acontecido nessa disputa politica cheia de facções não assumidas. E muita coisa ainda está por vir. Alguns lances porvir são:
- Não sabemos ainda como se postarão os pastores das maiores igrejas evangélicas do país.
- Não sabemos o que o papa vai fazer por aqui.
-Não sabemos se alguns editais para gravar CDs ou indicações para secretarias da Cultura vão fazer o Fora do Eixo pender pro governismo. Essa rede de coletivos de cultura independente (?) pode ajudar a ampliar o som da contracultura e participar ativamente inclusive em termos de proposição estática anti-sistema. Ou então pode recuar como fez ao não apoiar os acampamentos de 15 de Outubro de 2011. Por razões desconhecidas, inclusive por boa parte de sua própria base, o FDE hora está com os movimentos sociais (como na Marcha da Liberdade), hora está com o governo a qualquer custo (como no vergonhoso caso em que chancelou a Rio +20). Se o FDE segue no processo revolucionário com os movimentos autônomos, atuando nessa guerra simbólica, ou se aceitará qualquer emendazinha de consolação do Sistema é um mistério. Isso pode definir inclusive o futuro da música brasileira.
- E movimentos sociais do campo, como ficam? Haverão ocupações autônomas sem lideranças que possam ser cooptadas como ocorrem nos movimentos tradicionais?
-O envio de tropas, “com nosso dinheiro”, contra os índios mundurucu causará nos brasileiros o que o Vietnã causou na juventude estadunidense nos anos 60?
- Os hackerativistas estenderão suas ações para a ocupação de sinais de rádio e TV ou continuarão apenas pichando páginas de internet?
- Essa gente que propõe intervenção militar e se mistura às marchas nas ruas vai convencer alguém?
Na guerra simbólica. A juventude tucana tenta tomar dos anarquistas o símbolo da máscara de Guy Fawkes, até mesmo um vídeo fake dos Anonymous ganhou a rede pedindo que o povo ignorasse questões de gênero e liberdade religiosa e direitos civis de minorias, se focando em “5 causas”, como a cassação de Renan Calheiros. Tal vídeo propunha não o cancelamento da Copa, nem o boicote de seus patrocinadores, mas apenas que se investigassem os gastos, de uma maneira bastante vaga.
Outro lance interessante foi Lula mandar sua base de apoio vestir vermelho e aderir às manifestações de rua. Ele não contava com o fato de que carecas da extrema direita chegassem antes, de verde e amarelo como a Globo mandou, agredindo pessoas de vermelho nas manifestações que até então não haviam registrado qualquer conflito entre manifestantes.
Seja o que for, o processo político está apenas começando. E a disputa não deve permanecer apenas no campo simbólico, mas esse é o campo primordial. O levante da juventude pode nos levar a um país melhor, mais justo e livre; mas não podemos nos esquecer que corremos, sim, o risco de um rebote vindo da Direita. As reformas que a classe dominante almeja são para manter seu poder de fato, ainda que isso implique em tirar direitos e aumentar a repressão em vez de aproximar o povo do centro de decisões.
Sim, o levante popular tem que ser também contra os latifúndios eletromagnéticos, contra o monopólio do discurso, contra a indústria do espetáculo (que distrai e manipula). Os cartazes verde e amarelo mostrados pela Globo no dia do jogo não me representam. Eu acho que o gigante continua dormindo e apenas sonha que acordou, se não perceber de uma vez que a disputa em andamento é muito maior.
Leandro Cruz é jornalista e historiador, editor do blog Viagem no Tempo ( www.viagemnotempo.com.br ) autor do livro "Capitalismo: Religião Global" disponivel para download gratuito no link http://www.sendspace.com/
*”Uma Revolução ou reforminha para chamar de sua” – ensaio publicado em três partes no diário gaúcho Jornal do Povo e no blog Viagem no Tempo também em 2011
** Satyagraha (em sânscrito “Força da Verdade”) - a estratégia de luta popular pregada por Gandhi, que defende a intransigência na defesa das causas justas, a desobediência civil, mas a recusa completa ao uso de violência, ainda que o opressor aja com violência. O método teorizado e aplicado por Gandhi durante o processo de independência da Índia foi em parte inspirado pelas ideias de Thoreau, Tolstói e Jesus.
Sobre a bomba-relógio que há muito eu alertava ser o falso "novo Brasil"
A Casa Grande Tem mais ouro que o Palácio de Buckingham
O terrível "bom momento"
É só trocar o eixo que tá tudo certo?
O Pererê e a Cinderela
Brasil: Reich de Mentiras e Ignorância
Sobre nossa história de farsas:
Uma Revolução (ou reforminha) para chamar de sua Parte 1 / Parte 2/ Parte 3
Sobre filosofia libertária, desobediência civil e mutualismo
O homem que disse "Não"
O rei está pelado
O velho de barba branca e bandeira preta
quarta-feira, 19 de junho de 2013
¿Carnavolción? (o "¿Qué pasa en Brasil?")
Leandro Cruz
martes, 18 de junio de 2013
En los últimos días, las fotos de las crecientes protestas en Brasil y la represión policial de estos actos democráticos han ganado el mundo, sobre todo gracias a las redes sociales y medios de comunicación independientes.Análisis de fuera demonstran de desinformación completa por las agencias de noticias internacionales, que en los últimos años venían reproduciendo el discurso de los medios de comunicación dominantes brasileños, tan corrupta y mentirosa como los políticos corruptos del país. Este discurso afirma que el país está viviendo un momento de supuesta inclusión social, democracia consolidada y "desarrollo", que se celebrará de manera espectacular en el Mundial el próximo año y los Juegos Olímpicos en 2016. El interés de las corporativas de comunicación de todo el mundo en lucros publicitarios durante la cobertura de estos eventos callan a la prensa mundial para la dimensión real de los conflictos políticos y sociales que se producen en este estado oligarquico de dimensiones continentales.
La creciente tensión en las calles de las ciudades brasileñas entre el brazo armado del estado y la población civil no es una moda lanzada por Facebook o insatisfacción con los precios de los pasajes de autobús; aunque sea verdad que el gasto de un joven que utilice el transporte para ir y volver de la escuela y trabajar de lunes a viernesllegue a aproximadamente el 40% del mínimo sueldo mensual de 678 reales brasileños (equivalentes a US$ 313,04 o €234,66).
En los últimos años, Brasil se ha convertido en la sexta economía más grande del mundo bruta, pasando por delante del Reino Unido, sin embargo, esta fiesta es para unos pocos y las becas del gobierno que van desde 2 hasta 90 reales por familia sólo han servido para encubrir los índices de miseria y aliviar un poco las dificultades de un país en el que el precio de los alimentos se dispara, mientras que las grandes áreas fértiles del país se utilizan para producir bienes para la exportación. Con una de las mayores concentraciones de riqueza y la renta en el mundo, Brasil sigue amargando índices sociales dolorosos:
El octogésimo octavo país en Educación y octogésimo quinto lugar en el ranking del Índice de Desarrollo Humano. En Brasil hay 11,5 millones de personas que viven en asentamientos precarios (barrios, zancos, grutas, etc.). Más de la mitad no tienen saneamiento. Sólo el 10% de los trabajadores hizo la universidad. 23,4 niños mueren dentro de un año por cada mil nacidos (la situación es aún peor, pues muchos más mueren sin ni siquiera ser registrados) Para tener una idea mueren en Cuba es sólo el 6 por mil nacidos, en Suecia la tasa de mortalidad de niño es de 3 por mil. La población del cárcel brasileños está por medio millón, el más grande en el mundo. Sin embargo, los índices de violencia en Brasil son muy altos, debido a las severas condiciones sociales, de vivienda, alimentación y adicción a las drogas (especialmente en los estratos más miserables que no tienes acceso a ningún tipo de tratamiento). Es EVIDENTE que el aumento del gasto en policía no resuelven estos problemas.
La policía del estado, militarizada, no disfruta hace mucho de la confianza de los ciudadanos. Además de la extrema violencia y abuso de autoridad común en estas corporaciones, la corrupción es endémica en todos los niveles. Los soldados cobran sobornos para liberar a los vendedores ambulantes, los conductores atrapados en el bombardeo, o jóvenes víctimas de falsos flagrantes de drogas; En puestos más altos, coroneles y secretarios ponen el aparato de violencia de la seguridad Del estado en el servicio del capital privado. Ejemplos recientes de esto son la expropiación de grandes zonas residenciales o tierras indígenas para la construcción de obras para el Mundial, que sólo favorecen a los grandes contratistas y los patrocinadores del evento (que deberían ser boicoteados en todo el mundo).
Mientras tanto, el gobierno federal envió tropas a las tierras de los pueblos indígenas, con el fin de destruir los bosques y ríos que habitan para la ejecución de proyectos hidroeléctricos y de minería que solo interesan a las multinacionales de eso sector y no al pueblo de Brasil. No hubo consulta a la gente en estos esfuerzos militares en contra nuestros hermanos indígenas. Esas tropas no nos representan. Es como si vivimos nuestra Vietnam dentro de nuestras fronteras.
La explotación laboral, condiciones del transporte pobres, de la salud y de la educación, desgracias que sienten todos los brasileños de una manera o otra, los programas pueden parecer aislados, sino que son el resultado de un problema fuente, el sistema político brasileño, profundamente corrupto y controlado por los intereses financieros de un muy pequeño grupo de personas, la más rica y sin carácter del país. La gente está indignada por todas estas cosas, pero ya saben que en el fondo todo es el resultado del hecho de que el dinero manda en la política.
El sistema representativo es una farsa, para que alguien sea elegido necesita grandes cantidades de dinero y tiempo de exposición en la televisión. Y es así, quién consigue ocupar un cargo público sólo representa sus propios intereses y sus patrocinadores.
Brasil perdió la confianza en la clase política, el sistema político y los partidos políticos, aunque estas personas no estén seguras de lo que podría poner todo en el lugar. Algunas de las ideas que ya aparecen en algunos pósters en las calles o discursos en las redes sociales, como la democracia directa, o una mayor autonomía regional para el manejo de los fondos obtenidos (Brasil es uno de los países con la presión fiscal más alta del mundo), con la participación de la población en la gestión de estos recursos . No faltan aquellos que asisten a las manifestaciones con banderas negras y rojas que piden incluso el fin del Estado. También están los jóvenes más exaltados, especialmente de los suburbios, que sufren a diario de forma más truculenta en la mano de la policía y los escuadrones de la muerte (formados por la policía), quieren justicia para sus familiares y amigos muertos y humillados, una justicia que el sistema no va a ofrecer.
Las protestas "para un mejor transporte" dieron a los brasileños en las últimas semanas la sensación de no estar solos y la certeza de que la unión con la gente puede adquirir un poder capaz de superar incluso las instituciones del Estado NADA DEMOCRÁTICAS y soñar con un país sin privilegios para la clase política, con una redistribución de la riqueza y de los servicios públicos gestionados con eficacia, sin los desagües de la corrupción y el intercambio de favores políticos y financieros.
Si la revuelta es mayor que los 20 centavos más en la tarifa de autobús y mayor hasta que las decenas de miles de millones de dólares en dinero público gastado para realizar el Mundial y los Juegos Olímpicos de 2016, se espera que los resultados de ese momento histórico en que la gente comienza a descubrir su propio poder sean mayores que la derogación del aumento.
Del mismo modo que las manifestaciones no tienen líderes, ni tienen un "demonio" definido como se sucedió, por ejemplo, en la Media Revolución Egipcia. La gente parece estar cansada de tratar de arreglar el país simplemente cambiando los corruptos, en las elecciones a cada cuatro años o por demandas que siempre terminan "en pizza"*. El propio sistema es corrupto y carente de control social, de modo que este sistema no proporciona las herramientas para reparar a sí mismo. Sin embargo, las personas deben estar conscientes y participar directamente en todo proceso de ruptura o refuerza institucional, de modo que aquello que venga a limitarlo sea la voluntad de la gente en las calles y los ideales de la autogestión, la horizontalidad, la no violencia, la democracia, el respeto y la justicia. No podemos aceptar la militarización de la cuestión, no podemos aceptar golpes como la derecha militar, los medios de comunicación y los representantes rurales pueden llegar a intentar, ni tolerar ningún oportunismo electoralista de ninguno acaparador (no del viejo partido de izquierda, ni de la derecha).
Tomar el campo puede ser absolutamente cualquier cosa que cualquiera puede hacer con un pequeño gesto por el colectivo: el ciudadano que sale a la calle, el residente de la vecindad que libera la señal del internet para transmisiones independientes de las protestas, el estudiante de enfermería que presta ayuda los heridos en las calles si hay conflictos, las personas que comparten la comida con los campistas; el brasileño residentes en el exterior que alienta a las personas de otros países a boicotear a los patrocinadores del Mundial, el policía que se niega a cometer actos de violencia contra su propio pueblo y renuncia a su puesto de trabajo si fuera necesario para no pagar el papel odioso como herir personas honestas y honrada de defender a una clase política y económica tan vil.
La Carnavolución, el levantamiento satyagrahi*** más multicultural y colorido del mundo, parece que se acaba de empezar y es mucho más importante para nosotros que nuestra selección nacional de fútbol ganar un sexto bordado de estrella en la camisa.
Leandro Cruz es un historiador, periodista y autor del libro "Capitalismo: la religión mundial"
http://www.sendspace.com/
Notas:
- * "terminar en pizza", es una expresión brasileña para definir los resultados de las investigaciones y actuaciones judiciales contra políticos que tradicionalmente salen impunes.
- ** "Millones en acción" se refiere a la música tradicional para apoyar a la selección brasileña durante las competiciones internacionales de fútbol
- *** "Satyagrahi"en referencia a la Satyagraha (en sánscrito "fuerza de la verdad"), la estrategia de la lucha popular predicada por Gandhi, que defiende la intransigencia en la defensa de las causas justas, la desobediencia civil, pero la negativa completa a utilizar de la violencia, aunque el acto opresivo sea violento. El método teorizado y aplicado por Gandhi durante la independencia de la India fue en parte inspirada por las ideas de Thoreau, Tolstoi y Jesús.
terça-feira, 18 de junho de 2013
Carnavolution ? (ou “Que se passe-t-il au Brésil ?")
par Leandro Cruz
18-06-2013
Ces derniers jours, des images des protestations croissantes au Brésil ainsi que de la répression policière contre ces actes démocratiques ont circulé dans le monde, principalement grâce aux réseaux sociaux et à la presse indépendante. Les analyses qui proviennent de l’étranger font preuve d’une complète désinformation de la part des agences de presse internationales, qui, ces dernières années, reproduisent le discours des grands média brésiliens, aussi corrompus et menteurs que la classe politique du pays. Ce discours affirme que le pays vit une supposée période d’inclusion sociale, de consolidation de la démocratie et de « développement » qui sera célébre de manière spectaculaire lors de la Coupe du Monde de l’année prochaine et des Jeux Olympiques de 2016. L’intérêt des corporations de communication dans le monde entier pour les bénéfices publicitaires pendant la couverture de ces événements occulte la vrai dimension des conflits politiques et sociaux qui se produisent dans cet état oligarchique de dimensions continentales.
La tension croissante dans les rues des villes brésiliennes entre le bras armé de l’état et la population civile n’est pas une mode lancée sur Facebook ou une insatisfaction au sujet des prix des transports publics urbains, bien qu’il soit vrai que les dépenses d’un jeune qui utilise les transports pour se rendre à l’école ou au travail du lundi au vendredi représentent approximativement 40% de la valeur du salaire minimum mensuel brésilien de 678 reais (US$ 313,04 ou € 234,66).
Ces dernières années, le Brésil s’est hissé au rang de 6º économie brute du monde, passant devant le Royaume Uni, mais cependant, cette fête n’est pas pour tous, et les allocations du gouvernement qui varient de 2 à 90 reais par famille n’ont servi qu’à masquer les indices de la misère et à alléger un peu les difficultés d’un pays dans lequel les prix des aliments sont en hausse brutale, alors que les grandes surfaces fertiles du pays sont utilisées pour produire des commodities pour l’exportation. Avec l’une des plus grandes concentrations de richesses dans le monde, le Brésil continue à avoir d’amers et douleureux indices sociaux :
Dans le lassement mondial, le Brésil est à la 88º place en éducation, et à la 85º pour l'Indice de Développement Humain (IDH). Il y a au Brésil 11,5 millions de personnes qui vivent dans des conditions sous-normales (favelas, grottes, et autres bidon-villes...). Plus de la moitié de la population ne dispose ni d'égout ni d'eau courante. Seulement 10% des travailleurs ont une formation supérieure. Le taux de mortalité infantile pour les moins de un an est de 23,4 pour mille (la situation est en fait bien plus grave, car de nombreux enfants meurent avant d'avoi un acte de naissance. Pour avoir un ordre d'idée, ce taux est de 6 pour mille à Cuba et de 3 pour mille en Suède. La population carcérale brésilienne atteint le demi million, l'une des plus grande au monde. Malgré cela, les indices de violence au Brésil sont très élevés, en raison des graves conditions sociales, d'habitation, d'alimentation et de dépendance chimique (drogues), principalement parmi les couches sociales les plus misérables qui n'ont accès à aucun traitement. IL EST ÉVIDENT que l'augmentation des dépenses pour la police ne résoud pas ces problèmes.
Les polices des états (le Brésil est une fédération de plusieurs états - NDT), militarisées (héritage de la dictature militaire - NDT) n'ont plus depuis longtemps la confiance de la population. Outre l'extrème violence et les abus de l'autorité, choses communes dans ces corporations, la corruption est endémique à tous les niveaux. Des soldats empochent des pots de vin pour libérer des vendeurs ambulants, des conducteurs en infraction, des personnes prises en faux "flagrant délits" de vente ou d'utilisation de drogue. Aux plus haut niveaux de la hiérarchie, des colonels ou des secrétaire de la sécurité mettent au service du capital privé les violents outils de violence de l'état. Les exemples récents de désapropriations de grandes surfaces résidentielles pour les chantiers de la Coupe du Monde ou de terres indigènes pour des chantiers "d'intérêt national" illustrent ce favoritisme envers les grandes entreprises ou les sponsors de ces méga événements sportifs (qui doivent être mondialement boycotés).
Le gouvernement fédéral envoie ses troupes sur les terres des peuples indigènes afin de détruire les forêts et les rivières qui sont leurs territoires de vie et d'implanter des projets hydro-électriques ou miniers qui sont de l'íntérêt des multinationales et non du peuple brésilien. Il n'y a eu aucune consultation de ces populations, ni de l'ensemble de la population brésilienne sur ces efforts militaires contre nos frères indigènes. Ces troupes ne nous représentent pas. C'est un peu comme si nous vivions au Viet Nam à l'intérieur de nos propres frontières.
L'exploitation dans le travail, les mauvaises conditions de transport, de santé, d'éducation, des plaies dont souffre chaque Brésilien d'une manière ou d'une autre, peuvent sembler être des sujets indépendants, mais ils sont le fruit d'un même problème, le système politique brésilien, profondément corrompu et controlé par les intérêts financiers d'un très petit groupe de personnes, les plus riches et les plus sordides du pays. Le peuple est indigné par toutes ces choses, mais il sait que finalement c'est la conséquence du pouvoir de l'argent sur la politique.
Le système représentatif est une farce , pour que quelqu'un soit élu, il a besoin de grosses quantité d'argent et de temps de présence à la télévision. C'est de cette manière que celui ou celle qui arrive à occuper un poste public ne représente plus que ses propres intérêts et ceux de ses bailleurs de fonds.
Le Brésil ne croit plus dans sa classe politique, ni dans son système politique ou dans ses partis, mais ce peuple ne sait pas au juste ce qui pourrait substituer cela. Quelques idées apparaissent sur les banderolles dans les rues ou dans les échanges sur les réseaux sociaux, telles que la Démocratie Directe, ou une plus grande autonomie régionale dans l'administration de l'argent issu des impôts (le Brésil est l'un des pays qui a la plus lourde fiscalité dans le monde) avec la participation de la population dans la gestion de ces ressources. Les gens qui manifestent ne manquent pas, avec des drapeaux noirs et rouges et même pour demander la fin de l'État. Il y a aussi les jeunes plus exaltés, principalement des banlieues, ceux qui souffrent quotidiennement de la violence policière et des groupes d'extermination (formés par des soldats), ceux qui veulent la justice pour leurs proches morts et humiliés, une justice que le Système ne leur offrira pas.
Les protestations "pour un transport meilleur" ont donné aux Brésiliens ces dernières semaines la sensation de ne plus être seuls et la certitude qu'avec cette union le peuple peut acquérir un pouvoir capable de suplanter les institutions EN RIEN DÉMOCRATIQUES de l'État et rêver d'un pays sans privilèges pour la classe politique, avec une redistribution des richesses et des services public gérés efficacament, sans les gouffres de la corruption et de l'échange de faveurs politiques et financières.
Si la révolte est plus grande que les 20 centimes de plus dans le prix du ticket de bus, elle est aussi bien plus grande que les dizaines de milliards de reais de l'argent public dépensé pour la réalisation de la Coupe du Monde et des Jeux Olympiques de 2016. Il faut s'attendre à des résultats de ce moment historique où le peuple commence à découvrir son propre pouvoir qui soient bien plus importants que la simple annulation de l'augmentation des tarifs des transports.
De même que les manifestations n'ont pas de meneurs, il n'y a pas non plus un "démon" comme cela avait été dit lors de la Demie Révolution Egyptienne. Le peuple semble être lassé d'essayer de corriger le pays en changeant simplement de corrompus lors des elections, tous les quatre ans ou par des procès judiciaires qui "finissent en pizzas"*. Le système lui même est corrompu et dénué de contrôle social, ce qui implique que ce système ne fournira pas les outils pour se corriger. Mais le peuple doit être attentif et doit participer directement à tout processus de rupture ou de renforcement institutionel, afin que ce qui viendrait à le baliser soit issu du peuple dans les rues avec les idéaux d'autogestion, d'horizontalité, de non-violence, de démocratie, de respect et de justice. Nous ne pouvons pas accepter la militarisation de la question, nous ne pouvons pas accepter des coups d'état que la droite militaire, médiatique et ruraliste (les ruralistes sont au Brésil les grands propriétaires terriens, le latifundio, l'agro-industrie, ennemi des peuples indigènes et contraires à la réforme agraire. Ils sont aussi maintenant les alliés du gouvernement actuel - NDT) peut être amenée à réaliser, ni tolérer l'opportunisme electoral de qui que ce soit (ni de la vieille gauche partisane, ni de la droite).
Le Printemps Brésilien a tout pour être le plus beau et le plus divertissant de tous. Qu'il n'y ait pas de mort. Un tel processus, qui peut nous amener à mettre en place des sièges et des paralysations, doit être vécu dans la joie, la solidarité et l'union. L'organisation et beaucoup d'entraide seront nécessaires.
Nous savons déjà que nous n'avons pas besoin de prouver de nous jouons au foot mieux que quiconque. Alors, peut-être que pendant cette année qui va s'écouler jusqu'à la Coupe du Monde (si tant est qu'elle ait lieu), les "190 millions en action" arrêtent de simplement assister et supporter le Brésil dans le stade, mais surtout dans les campagnes, les villes et les forêts.
Entrer en jeu peut être absolument tout ce que chacun peut faire avec un petit geste pour la collectivité : le citoyen qui descend dans la rue; l'habitant qui offre son signal internet pour des transmissions indépendantes des manifestations; l'étudiante infirmière qui secoure les blessés des conflits avec la police; ceux qui partagent la nourritures avec les occupants des places et des rues; le Brésilien qui vit à l'étranger et poussent les autres à boycoter les sponsors de la Coupe du Monde; le policier qui refuse à pratiquer la violence contre son propre peuple et qui démissione si nécessaire pour ne pas jouer un rôle aussi odieux que pratiquer la violence sur des gens honnêtes et honorables en défense d'une classe politique et économique si vile.
La Carnavolution, le soulèvement satyagrahi*** le plus multiculturel et coloré du monde, semble ne faire que commencer, et cela est bien plus important pour nous que de gagner une sixième petite étoile à broder sur les maillots de notre équipe de football.
notes :
* finir en pizza : expression typiquement brésilienne utilisée pour définir l'issue des enquêtes et procès judiciaires contre les politiciens qui sont traditionnellement impunis.
** des millions en action : référence à une musique traditionelle de soutien à l'équipe brésilienne de foot lors de compétition internationales.
*** satyagrahi : adjectif construit à partir de Satyagraha (en sanscrit, la force de la vérité), la stratégie de lutte populaire préconisée par Gandhi et qui prône l'intransigence dans la défense des causes justes, la désobéïssance civile, mais refuse tout utilisation de la violence, même face à un oppresseur violent. Cette méthode théorisée et appliquée par Gandhi lors du processus d'indépendance de l'Inde a été en partie inspirée par Thoreau, Tolstoï et Jésus.
Carnavolução? (ou "O que está acontecendo no Brasil?")
por Leandro Cruz
Nos últimos dias, imagens de protestos crescentes no Brasil e de repressão policial a esses atos democráticos têm ganhado o mundo, sobretudo graças às redes sociais e à mídia independente. As análises vindas de fora demonstram completa desinformação por parte das agencias de notícia internacionais, que nos últimos anos vinham reproduzindo o discurso da grande mídia Brasileira, tão corrupta e mentirosa quanto a classe política do País. Tal discurso afirma que o País vive um suposto momento de inclusão social, democracia consolidada e “desenvolvimento” a ser celebrado de forma espetacular na Copa do Mundo de Futebol do ano que vem e nas Olimpíadas de 2016. O interesse das corporações de comunicação de todo mundo nos lucros publicitários durante a cobertura desses eventos calam a boca da imprensa global para a real dimensão dos conflitos políticos e sociais que ocorrem nesse estado oligárquico de dimensões continentais.
A crescente tensão nas ruas de cidades brasileiras entre o braço armado do estado e a população civil não é uma moda lançada pelo Facebook ou uma insatisfação com os preços das passagens de ônibus; embora seja verdade que os gastos de um jovem que use o transporte para ir e voltar da escola e do trabalho de segunda a sexta cheguem a aproximadamente 40% do valor do salário mínimo mensal brasileiro, de 678 reais (o equivalente a US$ 313,04 ou € 234,66).
Nos últimos anos, o Brasil se tornou a 6ª maior economia bruta do mundo, passando à frente do Reino Unido, no entanto essa festa é para poucos e as bolsas do governo que variam de 2 a 90 reais por família tem servido apenas para mascarar índices de miséria e aliviar um pouquinho as dificuldades de um país onde o preço dos alimentos dispara, enquanto as grandes áreas férteis do país são usadas para produzir commodities para exportação. Com uma das maiores concentrações de riqueza e renda do mundo, o Brasil continua amargando índices sociais dolorosos:
Octogésimo oitavo país em Educação e octogésimo quinto no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano. Há no Brasil 11,5 milhões de Pessoas vivendo em aglomerados subnormais (favelas, palafitas, grotas, etc.). Mais da metade não tem saneamento. Apenas 10% dos trabalhadores fizeram curso superior. Morrem 23,4 crianças antes de um ano a cada mil nascidas (situação ainda é pior, pois muitos mais morrem sem sequer ser registrada) Para se ter uma ideia em Cuba morrem apenas 6 para cada mil nascidas, na Suécia o índice de mortalidade infantil é de 3 por mil. A População Carcerária brasileira beira o meio milhão, uma das maiores do mundo. Ainda assim, os índices de violência no Brasil são altíssimos e, devido às gravíssimas condições sociais, de moradia, alimentação e vicio em drogas (sobretudo nas camadas mais miseráveis que não tem acesso a qualquer tipo de tratamento). É EVIDENTE que aumento nos gastos com polícia não resolve essas questões.
As polícias estaduais, militarizadas, não gozam há muito tempo da confiança da população. Além da extrema violência e abusos de autoridade corriqueira nessas corporações, a corrupção é endêmica em todos os níveis. Soldados cobram propina para liberar vendedores ambulantes, motoristas pegos em blitz, ou jovens vítimas de falsos flagrantes de droga; Nos altos escalões, coronéis e secretários de segurança colocam o aparato de violência do Estado a serviço do capital privado. Exemplos recentes disso são as desapropriações de grandes áreas residenciais ou mesmo terras indígenas para a construção de obras para a Copa do Mundo, que só favorecem às grandes empreiteiras e aos patrocinadores do evento (que deveriam ser boicotados mundialmente).
Enquanto isso, o Governo Federal envia tropas para terras de povos indígenas, afim de destruir as florestas e rios que eles habitam para a implementação de projetos hidrelétricos e de mineração que só interessam às multinacionais do ramo e não ao povo brasileiro. Não houve qualquer consulta ao povo sobre esses esforços militares contra nossos irmãos indígenas. Aquelas tropas não nos representam. É como se vivêssemos nosso Vietnã dentro de nossas próprias fronteiras.
Exploração no trabalho, más condições de transporte, saúde e educação, mazelas sentida na pele por cada brasileiro, de uma forma ou de outra, poderiam parecer pautas isoladas, mas são fruto de um problema raiz, o Sistema Político Brasileiro, profundamente corrupto e controlado pelos interesses financeiros de um grupo realmente pequeno de pessoas, as mais ricas e sem caráter do país. O povo está indignado com todas essas coisas, mas sabe que no fundo tudo é fruto do fato de o dinheiro mandar na política.
O sistema representativo é uma farsa, para alguém ser eleito precisa de altas quantias de dinheiro e de tempo de exposição na televisão. E assim, quem chega a ocupar um cargo público só representa seus próprios interesses e o de seus financiadores.
O Brasil perdeu a crença na classe política, no sistema político e nos partidos políticos embora esse povo não saiba ao certo o que poderia colocar no lugar disso tudo. Algumas ideias aparecem já nalguns cartazes nas ruas ou discursos nas redes sociais, como Democracia Direta, ou maior autonomia regional para a administração do dinheiro arrecadado (O Brasil é um dos países com maior carga tributária do mundo) com participação da população na gestão desses recursos. Não falta quem compareça aos protestos com bandeiras pretas e vermelhas pedindo até mesmo o fim do Estado. Há também aqueles jovens mais exaltados, sobretudo das periferias, que sofrem diariamente de maneira mais truculenta na mão da polícia e dos grupos de extermínio (formados por policiais), que querem justiça por seus parentes e amigos mortos e humilhados, uma justiça que o Sistema não vai oferecer.
Os protestos “por melhor transporte” deram aos brasileiros nas últimas semanas a sensação de não estar sozinhos e a certeza de que com união o povo pode adquirir um poder capaz inclusive de suplantar as instituições NADA DEMOCRÁTICAS do Estado e sonhar com um país sem privilégios para a classe política, com redistribuição de riquezas e com serviços públicos geridos de maneira eficaz, sem os ralos da corrupção e da troca de favores políticos e financeiros.
Se a revolta é maior que os 20 centavos a mais na passagem de ônibus e maior até que as dezenas de bilhões de reais em dinheiro público gastos para a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas de 2016, há de se esperar os resultados desse momento histórico em que o povo começa a descobrir seu próprio poder sejam maiores que a revogação do aumento.
Do mesmo modo que as manifestações não tem líderes, tampouco tem um “demônio” definido como ocorreu, por exemplo, na Meia Revolução Egípcia. O povo parece estar cansado de tentar corrigir o país simplesmente trocando os corruptos, nas eleições quadrienais ou via processos judiciais que sempre acabam “em pizza”*. O próprio sistema é corrupto e desprovido de controle social, de modo que esse sistema não fornecerá as ferramentas para emendar a si próprio. No entanto, o povo deve estar atento e participando diretamente de qualquer processo de rompimento ou reforma institucional, para que aquilo que venha a balizá-lo seja a vontade do povo nas ruas e os ideais de autogestão, horizontalidade, não-violência, democracia, respeito e justiça. Não podemos aceitar a militarização da questão, não podemos aceitar golpes como a Direita militar, midiática e ruralista pode vir a tentar fazer; nem tampouco tolerar oportunismo eleitoreiro de nenhum aproveitador (nem da velha Esquerda partidária, nem da Direita).
A Primavera Brasileira tem tudo para ser a mais bonita e divertida de todas. Que não hajam mortes. Um processo como esse, que pode vir a exigir acampamentos e paralizações, deve ser vivido com alegria, solidariedade e união. Organização e muita ajuda mutua serão necessárias.
Já sabemos que não precisamos provar para ninguém mais no mundo que a gente joga futebol melhor que qualquer outro. Então, talvez nesse ano que falta para a Copa do Mundo (se é que ela vai acontecer) os “190 milhões em ação”** deixem de apenas assistir e torcer pelo Brasil e entrem em campo, no campo, na cidade e na floresta.
Entrar em campo pode ser absolutamente qualquer coisa que qualquer um pode fazer com um pequeno gesto pelo coletivo: o cidadão que vai às ruas; o morador de imediações que libera o sinal da internet para transmissões independentes dos protestos; a estudante de enfermagem que presta ajuda aos feridos nas ruas se houverem conflitos; as pessoas que compartilham alimento com os acampados; o brasileiro que vive no exterior e incentiva as pessoas dos outros países a boicotarem os patrocinadores da Copa; o policial que se nega a cometer violência contra seu próprio povo e renuncia ao emprego se preciso for para não se prestar a papel tão odioso como machucar gente honesta e honrada para defender uma classe política e econômica tão vil.
A Carnavolução, o levante satyagrahi*** mais multicultural e colorido do mundo, parece estar só começando e é bem mais importante para nós do que o nosso time nacional de futebol ganhe uma sexta estrelinha para bordar na camisa.
Leandro Cruz é jornalista e historiador, editor do blog Viagem no Tempo ( www.viagemnotempo.com.br ) autor do livro "Capitalismo: Religião Global" disponivel para download gratuito no link http://www.sendspace.com/ file/b32xtk
- * “acabar em pizza”, é uma expressão brasileira usada para definir os desfechos de investigações e processos contra políticos que tradicionalmente saem impunes.
-** “milhões em ação”, referencia a uma música tradicional de apoio à Seleção Brasileira durante as competições internacionais de futebol
- *** “satyagrahi”, referente à Satyagraha (em sânscrito “Força da Verdade”), a estratégia de luta popular pregado por Gandhi, que defende a intransigência na defesa das causas justas, a desobediência civil, mas a recusa completa ao uso de violência, ainda que o opressor agir com violência. O método teorizado e aplicado por Gandhi durante o processo de independência da Índia foi em parte inspirado pelas ideias de Thoreau, Tolstói e Jesus.
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