“Poucos entre eles desconhecem a maioria dos astros e estrelas de seu hemisfério; chamam-nos todos por seus nomes próprios, inventados por seus antepassados". Claude D'abbeville, 1614, sobre os tupinambás.
O guerreiro Awá Mirin é tupinambá, de pai e mãe. Herdeiro legítimo dos primeiros habitantes da Mata Atlântica. Seu povo foi dizimado no Sudeste, basicamente pelas doenças, por serem escravizados e também em guerras promovidas por invasores portugueses e franceses que, por brigarem entre si, provocaram os tupinambás, jogando-os numa guerra inventada contra seus primos tupiniquins. A ideia de que haviam constantes e sangrentas guerras indígenas antes da chegada dos brancos é uma mentira. Da Mata Atlântica original estima-se que só reste entre 4% e 7%. Sobram uns poucos remanescentes desse povo ainda no Nordeste, mas esses sobreviventes estão sendo caçados covardemente e tratados como “invasores”.
Awá Mirin Guaçú Tupinambá, um grande guerreiro na defesa dos Direitos Indígenas no Brasil, é também filósofo e observador de sinais no Céu |
Foi Awá Mirin quem me contou que “tatá” significa fogo e que é a mesma palavra que eles usam para se referir às estrelas. O que é uma grande verdade, pois quando tocamos fogo na lenha aquela energia liberada nada mais é do que a energia das estrelas (de modo especial o Sol) que a árvore acumulou por fotossíntese. Foi ele também quem me ensinou acompanhar o Caminho da Anta (Via Láctea). Awá também me ensinou que quando Seichu (“O Vespeiro” ou “Porção de Farinha”, como é chamada por outros povos indígenas, é aquela constelação a qual os gregos chamaram de Plêiades) aparece no céu pela primeira vez no ano, indica o auge da seca: a melhor hora para realizar uma boa coivara (queimada controlada num pequeno terreno) para o plantio de determinadas culturas.
Ao conhecer o ritmo celeste, os índios da Mata Atlântica também conheceram o ritmo da Terra. A época do ciclo de vida de cada planta que desse comida ou medicina. O comportamento de cada animal ao longo do ano e das fases da lua. Conectados, sabiam que tipo de solo uma planta prefere, na companhia de quais outras plantas elas gostam de crescer e se dão melhor. Dominavam a ciência sobre que quantidade de água e de sol é mais agradável para esse ou aquele vegetal.
E de posse desse conhecimento, manejavam a floresta. Desde que surgiram na Terra, os primatas têm essa função: espalhar sementes. Mas o homo sapiens, de posse da capacidade de adquirir conhecimento, observar a interagir com as forças da natureza, pode ser o harmonizador por excelência, o jardineiro.
Com o manejo agroflorestal não precisavam de agricultura “convencional”. Nem veneno, nem muito trabalho. Era só deixar as forças da natureza, observadas e otimizadas, fazerem seu trabalho. Bastava voltar na hora de colher. Isso, sim, era uma relação sustentável. Assim na terra como no céu, o ciclo natural nunca falha e o pão nosso de cada dia está garantido.
Graças às estrelas podiam migrar (sabendo a hora e o caminho) de tempos em tempos, reencontrando antigas agroflorestas (esse nome não existia, foi inventado recentemente por acadêmicos que só agora estão descobrindo o que os índios já faziam havia muito tempo) que talvez jamais tivessem conhecido antes, reencontrando árvores e víveres plantados por gerações anteriores, deixados como herança. Os mapas podiam ser passados de geração em geração. Muitas histórias, mitos e músicas indígenas podem parecer sem sentido para o branco que não conhece as constelações do Sul e os nomes que os mais antigos observadores desse céu davam a elas.
As rotas de migração indígenas podem ser bem mais complexas do que parecem. Pesquisadores (não só historiadores, mas de modo especial estudiosos da área da biologia) têm descoberto sinais evidentes de manejo harmônico. Árvores centenárias e espécies crescendo em lugares onde não cresceriam se suas sementes ou mudas não tivessem sido dispersadas por outro animal (que não o homem) são, portanto, vestígios arqueológicos. Estamos destruindo a nossa história e também apagando registros de soluções para problemas do futuro a cada vez que se destrói os biomas, derrubam-se matas para plantar (sendo que os índios e a agricultura ecológica - ver Bill Mollison e Masanobu Fukuoka - já provaram que não é preciso destruir para produzir abundância de alimentos) e a cada vez que se destrói o saber de um povo.
A constelação tupinambá do Veado |
tenho uma pedra de 12 quilos encontrada em fazenda antiga com um desenho muito parecido com esse. para saber mais entre em contato wanderlymendes@ymail.com
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