Brasil, 5 de novembro de 2005. O então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush visita o país e o presidente Lula. Protestos não televisionados acontecem isoladamente. Na redação de um relevante jornal paulista, o editor-assistente do caderno B, depois de um exaustivo trabalho de pesquisa sobre a política da junta Cheney-Bush, recebe a notícia: “É pra cortar! Arruma outra coisa para pôr na página 7”. Sem mais explicações, todos os textos cortados. A pesquisa tinha sido séria e embasada. Ninguém criticou o texto ou apontou falhas. Simplesmente não era conveniente. Foi a primeira vez que chorei numa redação. Essa semana, encontrei uma cópia impressa em papel sulfite dos artigos que não saíram no dia 6 de novembro de 2005 e lembrei de uma passagem bíblica: “Não há nada de oculto que não venha a ser revelado” (Lc 12,2). Reproduzo na íntegra, sem alterar sequer os tempos verbais, por isso faço questão de lembrar que o texto é de 2005 e algumas coisas mudaram desde então... como o presidente mexicano, por exemplo. É uma história que precisa ser recordada para entendermos o século XXI.
(finalmente publicado em 25/06/2011, no Jornal do Povo - Cachoeirado Sul,RS - e neste blog)
(finalmente publicado em 25/06/2011, no Jornal do Povo - Cachoeirado Sul,RS - e neste blog)
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Quando o presidente do México, Vicente Fox, visitou o dos EUA, George Walker Bush, pela última vez, foi-lhe apresentada pelo anfitrião uma alta executiva da Chevron-Texaco, Condoleezza Rice que oportunamente ocupa o cargo de secretária de Estado dos EUA. Bush, arriscando-se de maneira patética na língua espanhola, apresentou-a como “La secretaria Arroz”. O presidente acabara de traduzir o nome Rice ao pé da letra. Qualquer criança ou adolescente com um mínimo de instrução sabe que nomes não são traduzidos. Ou por acaso chamamos Bush de “Jorge Andarilho Arbusto”. E o presidente Lula deveria ser chamado de President Squid pelos americanos?
O mexicano deve ter achado graça e pensado: como pode alguém assim liderar uma superpotência? Ele pode não ter se chocado se, anteriormente, alguém tiver advertido que o Q.I. (Quociente de Inteligência) do presidente estadunidense é de 102 (para se ter uma ideia, Roger, vocalista da banda Ultrage a Rigor, tem índice 172 e a Madonna passa dos 140). O homem que tem o controle do botão vermelho é Bush. Mas como isso pode acontecer?
DE PRESENTE, A PRESIDÊNCIA
As eleições para presidente nos EUA acontecem por Colégio Eleitoral, isso é: se um candidato vence em um estado, todos os membros do tal “colégio” são indicados pelo vencedor. Os membros indicados dos colégios é que apontam de fato para onde irão os pontos das eleições daquele estado. Obviamente, eles são indicados para votarem em quem os indicou. A Califórnia, por exemplo, tem 55 membros de colégio eleitoral; Nova Iorque tem 33 e Vermont, apenas três. Quem vence nas urnas da Califórnia, portanto, ainda que por diferença pequena, terá os 55 votos do colégio daquele estado. Assim, se torna possível que alguém que perca no número total de votos populares seja eleito presidente, por ter conquistado as regiões mais estratégicas.
O pleito americano do ano 2000 foi particularmente complicado, pois muita gente estava brava com o Partido Democrata, uma vez que o presidente Clinton havia mentido para a nação, não sobre armas de destruição em massa, mas sobre seu envolvimento com uma estagiária e sobre charutos (charutos cubanos!!!).
Por isso, Al Gore, que era vice de Clinton, teve tanta dificuldade para vencer o tonto George W. Bush, filho de um ex-presidente não muito querido, George H. W. Bush (1989-1993). Com o país político-moralmente dividido por um charuto, os 25 pontos da Flórida fariam TODA a diferença. Gore estava tranquilo, pois sabia que a maioria do povo daquele estado o apoiava. Mas o grupo por trás de Bush II tinha algumas cartas na manga.
O republicano Jeb Bush, governador da Flórida e irmão de George, sabia que a população negra estava com os democratas e, por isso, impediu mais de 16 mil afrodescendentes de votar, baixando uma lei que determinava que qualquer pessoa com passagem pela polícia perdesse o direito de votar. Na “caça às bruxas” nem todos os com “passagem” fora pegos na peneira, de maneira surpreendente, os negros (mesmo que sua infração fosse bobagem a ver com multa de trânsito). Cédulas confusas em condados de maioria democrata. Nomeação do chefe de campanha de Bush para fiscal de apuração. Extravio de urnas. Tudo isso fez Bush ganhar na Flórida por menos de 2 mil votos.
A polêmica chegou à Suprema Corte, que por 5 a 4 declarou o pleito legal. A família Bush e outros magnatas do petróleo podiam arrumar a mudança para a Casa Branca, apesar de menos pessoas terem votado neles. Era só o primeiro de uma série de golpes das megacorporações de petróleo.
(Continua)
Imagens de protestos anti-Bush no Brasil durante sua visita em 2005 |