sexta-feira, 15 de julho de 2011

As aventuras de Bush Kid, o caubói do petróleo (2 e 3)

O investidor do ramo do petróleo Dick Cheney
(direita), que governou os Estados Unidos nos
primeiros anos da década, exibe troféu de caça
(Clique aqui para ler a Parte 1 da série)
Parte 2 
George Walker Bush nunca foi o homem no comando. A junta petroleira que governa os EUA tem na pessoa de Dick Cheney, o vice, o seu verdadeiro mentor. Cheney, chefe-executivo da gigante do petróleo Halliburton e também o homem forte dos negócios de extração de gás natural no Mar Cáspio da Unocal (Union Oil Company of California), achou uma ótima ideia formar chapa à presidência com o herdeiro alcoólatra de Bush Pai, sócio de longa data, investidor do ramo do petróleo, funcionário da família real saudita nas administrações de seus negócios na América. Os Bush também têm seus negócios com uma outra família bilionária saudita: os Bin Laden. Uma das empresas das quais a família é sócia é a bélica Grupo Carlyle, que fabrica armamentos de guerra e fornece para as Forças Armadas dos EUA.
Mapa mostra como só existem dois caminhos possíveis
para levar o gás Natural do Mar Cáspio ao Oceano
índico. Um deles é pelo Irã, o outro pelo Afeganistão 
Dick "Unocal" Cheney sonhava havia muito tempo com a construção de um gasoduto que ligasse o "seu" Mar Cáspio ao Oceano Índico. Como o caminho mais curto passa pelo fortemente armado Irã, a gangue que fraudou as eleições americanas de 2000 entendeu que passar pelo árido Afeganistão seria mais fácil. Acontece que os Talibãs, grupo fundamentalista islâmico que governava o país e havia sido aliado dos americanos contra os soviéticos nos anos 80, não estavam dispostos a colaborar tão facilmente com as corporações energéticas donas do governo dos EUA. Melhor pro Grupo Carlyle. Mas faltava um pretexto para gerar aceitação pública para uma guerra por interesses privados.
Tão logo Cheney, na pessoa de Bush, assumiu o poder, planos de invasão ao Afeganistão começaram a ser traçados. Mas faltava o motivo, que viria em setembro de 2001. De acordo com Gore Vidal (em seu livro "Sonhando a guerra" – Ed. Nova Fronteira), com Nafeez M. Ahmed (em "War on freedom: how and why America was attacked" – não lançado em português) e ainda com o jornal The Guardian, "Osama Bin Laden e o Talibã receberam ameaças de possíveis ataques contra eles dois meses antes das investidas terroristas contra Nova Iorque e Washington (…), o que levanta a possibilidade de que Bin Laden estivesse lançando um ataque preventivo em resposta ao que via como ameaças americanas” (The Guardian, 22 de setembro de 2001). A fonte do Guardian foi o diplomata paquistanês Niaz Naik.
Osama, que havia trabalhado para Washington durante a Guerra Fria, era também irmão do finado Salem Bin Laden, que por acaso foi sócio de George W. Bush no seu primeiro negócio no ramo do petróleo no Texas: a Arbusto Energy. Arbusto! Sim, ele traduziu seu nome pro castelhano (Shame on you!). De acordo com o Guardian e os outros analistas citados, Bin Laden, que além de milionário é também um fundamentalista islâmico, já tinha os atentados com aviões comerciais preparados para quando achasse mais oportuno ou "necessário". As ameaças americanas o teriam levado a ordenar o ataque.
Em 6 de agosto de 2001, a força tarefa formada pela CIA e o FBI entregou à Casa Branca um relatório sobre as intenções de Bin Laden de atacar os Estados Unidos em seu próprio território. No entanto, o governo Bush/Cheney não alertou o país nem aumentou o nível de segurança nos aviões e aeroportos. Quando os aviões foram sequestrados no fatídico 11/9, em vez de os caças da Força Aérea decolarem imediatamente para interceptá-los ou afastá-los de zonas habitadas, foi dada ordem para que não o fizessem. Os caças só alçaram voo após 3 mil pessoas morrerem.
Pronto, o governo dos lobbies energéticos tinha seu motivo convincente para invadir o Afeganistão. Derrubado o Talibã, quem seria providencialmente colocado como presidente do Afeganistão? Hamid Karzai, funcionário da Unocal. Tão logo ele assumiu, o gasoduto de Cheney começou a ser construído.
Bush, que até então tinha problemas de legitimidade (por conta da conturbada eleição no tapetão da Suprema Corte) e não conseguia aprovar nada no Congresso até então, saiu fortalecido. O Grupo Carlyle vendeu tantos blindados quanto pode ao Pentágono, enriquecendo ainda mais os Bush e os Bin Laden.

Parte 3 
Após a invasão em 2001, não chegou a ser difícil derrubar os Talibãs. Na guerra movida pelas megacorporações de gás e petróleo, tendo o governo dos Estados Unidos como avatar, apenas 17 mil homens bastaram para a tomada do governo oficial afegão pelas forças invasoras e aliados locais.
Ao lado de soldado americano que invadiu sua casa e matou
seu pai, criança iraquiana chora em 2004
Contudo, mesmo que o complexo de túneis das cavernas de Tora Bora tenha sido mapeado e redesenhado pela CIA (durante a ocupação soviética nos anos 80), Osama Bin Muhammad Bin Laden (suposto mentor do 11 de setembro) escapou. Os Talibãs caíram, Osama sumiu. O importante para a Unocal (de Dick Cheney) é que o gasoduto seria construído. Mas a coalizão das gigantes do petróleo queria mais, e tinha algo em mente.
As ligações comerciais entre os membros do chamado “governo Bush” eram antigas. A Halliburton de Cheney chegou a ter um petroleiro chamado Condoleeza Rice (em homenagem à “Secretária Arroz”).
Mas apesar de a Unocal, a Halliburton, a Chevron Texaco e suas outras irmãs serem tão íntimas da Arábia Saudita (de sua família real e de sua titânica reserva de petróleo de 261,8 bilhões de barris de petróleo), havia ainda o interesse pela segunda maior reserva de ouro negro do Oriente Médio, os 112,5 bilhões de barris sob o solo do Iraque. Para desgosto dos Bush e dos amigos da família, não havia uma boa desculpa ante o público americano para invadir a Mesopotâmia.
O ex-conselheiro antiterrorismo do governo, Richard Clarke, revoltado com os equívocos de seu chefe, foi à TV e revelou que a Casa Branca estava obcecada por Saddam Hussein e queria que a equipe de Clarke escrevesse um relatório ligando Saddam ao 11 de setembro, mesmo que não houvesse qualquer evidência para isso nem fizesse sentido algum do ponto de vista histórico.
Clarke revelou no programa 60 Minutes ( TV CBS) que o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, o pressionava para manipular os fatos. Clarke reafirmaria e detalharia tudo em seu livro "Contra todos os inimigos".
O ditador iraquiano não tinha tecnologia nem intenção para construir armas nucleares ou químicas para atacar os EUA. Mas, passando por cima dos relatórios da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica, ligada à ONU) e de seu então presidente, o egípcio Mohamed El Baradei (Nobel da Paz em 2005), o governo dos EUA invadiu o Iraque em 2003.
Rauch & Lang Eletric de 1915, carro elétrico construído entre
1905 e 1928. Pouquíssimas  unidades foram produzidas,
principalmente após 1915. Existem muitas coisas na história que
não querem que as pessoas saibam.
Após a morte de 30.163 civis (dado do dia 5 de novembro de 2005, às 11h20min, durante visita de Bush ao Brasil. Informações mais atualizadas em www.iraqbodycount.net), não há como negar que todo aquele teatro era uma mentira.
Saddam era de fato um tirano local, promovia assassinatos de inimigos políticos em massa (como a minoria curda e os xiitas). Essa passou a ser a justificativa para a invasão, mesmo depois de desmascarada a invenção da história das armas químicas. Mas se a motivação da beligerância fosse mesmo a tirania, Washington agiria para brecar o genocídio no Sudão. Ou interviria no Nepal para derrubar o fratricida rei Gyanendra (que na verdade é também aliado da Casa Branca).
Nas eleições de 2004 a grande contradição: de um lado George W. Bush, o cara que quando jovem usou das influências políticas de seu pai (que trabalhava na CIA) para se safar do serviço militar, mas como presidente convocou duas guerras em seu primeiro mandato. Do lado Democrata, indicam John Kerry, um veterano de guerra do Vietnã que falava contra o militarismo de Bush.
Para vencer a sua segunda corrida presidencial, Bush não precisou das artimanhas de 2000, bastou usar seu garoto propaganda: Osama Bin Laden.
Nunca o medo foi tão intensamente usado numa campanha política. As imagens das torres gêmeas sendo destruídas voltaram a se repetir e repetir na TV. Isso bastou para convencer o povo de que o militarismo de Bush (e a turma do petróleo) era mesmo a melhor opção.
O petróleo jorra e a liga das megacorporações energéticas sorri. Bombas explodem e os acionistas do Carlyle Group contabilizam os lucros.
As vítimas desse golpe de empresas contra governos e contra a verdade (manipulação da opinião pública) não são só os iraquianos e afegãos que tiveram sua terra invadida. O sofrimento também não ficou só com as famílias de jovens convocados para morrer e enlouquecer nesse teatro de guerra. Bush decidiu em 2001 não ratificar o protocolo internacional de Kyoto, que acordava a redução internacional das emissões de CO2 e outros gases causadores do efeito estufa. A substituição da matriz energética para outras formas mais limpas e menos impactantes (ecologicamente e em questões relativas à paz) é, sim, possível. Estão mentindo para todo o mundo por interesses de grupos verdadeiramente pequenos de pessoas.

SAIBA MAIS:
Sonhando a Guerra - Gore Vidal (Nova Fronteira)
Contra Todos os Inimigos – Richard Clarke (Francis)
11 de setembro – Noam Chomsky
A Era do Terror – S. Talbott e N. Chanda (Campus)
Stupid White Men – Michael Moore (Francis)
Gaia (trilogia) – James Lovelock

Bush acompanha Lula em visita a planta da Petrobras durante sua visita ao Brasil em 2005. Os textos publicados aqui e no Jornal do Povo em três partes com o título "As aventuras de Bush Kid" eram, na verdade, um especial sobre o histórico da Familia Bush e suas ligações com as megacorporações do petróleo que seria publicado no jornal Comércio da Franca em novembro de 2005, durante a visita do então presidente americano ao país. Por razões que até hoje desconheço, o texto foi proibido de ser publicado naquela ocasião pelo jornal paulista




2 comentários:

  1. Muito bom! sua linha cronólogica é certa post muito rcomendado seria bom se você resumisse o confronto na líbia e o ódio entre judeus x islamicos para o publico leigo isso é de grande valia você sabe explicar bem para quem não esta por dentro mas quer entender!!!!

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  2. Excelente matéria, cheguei aqui porque estava lendo "A melhor democracia que o dinheiro pode comprar", do jornalista americano Greg Palast, e "Hitler ganhou a guerra", do economista argentino Walter Graziano.

    Procurava por Mar Cáspio e Afeganistão para entender melhor a geopolítica das petroleiras americanas e me surpreendi com a qualidade de seu site.

    Parabéns por divulgar este tipo de matéria independente, que ninguém na mídia comercial tem coragem ou interesse em publicar.

    Como falou Greg Palast sobre o jornalismo investigativo: é muito caro, é arriscado e perturba a ordem estabelecida, ou seja, não faz bem para os negócios.

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