A Princesa Isabel foi a primeira mulher a ocupar uma vaga noSenado. Não fosse o golpe de novembro de 1989, teria sido a primeira mulher a governar o País |
Os revisionistas transformaram Isabel de mocinha em bandida quando questionaram a amplitude da Lei Áurea, que libertou os escravos, mas que supostamente os teria deixado entregues à própria sorte, sem indenização pelos anos de trabalho não-remunerado, sem casa, sem terra e sem emprego. Contudo, novos estudos estão reabilitando Isabel Cristina Leopoldina etc, etc, etc, e ao que tudo indica a herdeira do trono imperial brasileiro era muito mais progressista do que se imaginava: defendia o voto feminino e queria promover a reforma agrária.
O historiador Eduardo Silva, da Fundação Casa de Rui Barbosa, teve acesso a documentos inéditos, como cartas da princesa endereçadas a proprietários de terra. Antes da Lei Áurea a princesa gastava boa parte de seu dinheiro comprando escravos (mas não era para explorá-los e sim para libertá-los). Após a assinatura ela pretendia comprar terras para assentar os recém-libertos, não descartando inclusive contrair empréstimos do Banco Mauá para distribuir pedaços de chão a todos os ex-escravos. Como eram muitos os negros, Isabel tentou até conseguir doações de terra e dinheiro para promover essa reforma agrária.
Debret retratou a escravidão oficializada no Brasil, abolida em 1888 por Isabel, que seria coroada rainha em no máximo 4 anos. |
“Com os fundos doados pelo senhor teremos oportunidade de colocar estes ex-escravos, agora livres, afrodescendentes em terras próprias trabalhando na agricultura e na pecuária e delas tirando seus próprios proventos”, escreveu no dia 11 de agosto de 1889 em missiva endereçada ao Visconde de Santa Vitória.
A filha de Dom Pedro II não teve tempo de concretizar seus planos, uma vez que pouco mais de três meses após o envio dessa carta ao visconde, isto é, no dia 15 de novembro de 1889, um grupo de militares promoveria um golpe de Estado, proclamando uma república ditatorial e expulsando a família real do Brasil, incluindo a princesa e o Imperador, que haviam nascido em solo brasileiro (e não português).
Os militares, aliados aos grandes proprietários de terra, estavam possessos com a libertação dos escravos e não aceitavam a idéia de que uma mulher (Isabel) se tornasse governante do país, como ocorreria dali a quatro anos, quando Dom Pedro II (já velhinho) abdicaria em seu favor, ou antes, caso o imperador viesse a morrer (como de fato veio a morrer dois anos depois).
A questão era agravada pelo fato de a futura imperatriz, que já havia ocupado o comando da Nação provisoriamente em algumas ocasiões (ela assumia a regência do império na ausência do pai, por viagem ou doença), ter aproveitado essas oportunidades aprovando a Lei do Ventre Livre e posteriormente a Lei Áurea.
De fato, a república proclamada pelo Marechal Deodoro da Fonseca não consolidou a democracia, uma vez que num primeiro momento só militares assumiam a chefia do Executivo e, depois, só os homens (os do sexo masculino mesmo) muito ricos (muito mesmo) podiam votar e ser votados. Ao longo de nossa história republicana houve ainda inúmeros golpes de Estado e ditaduras. Apenas muito recentemente é que iniciamos um processo de consolidação da democracia.
Os ex-donos de escravos queriam ser indenizados pela perda de sua “propriedade”, mas as cartas da princesa demonstravam que a intenção dela era indenizar não a eles, mas sim aos escravos (pelos quatro séculos de trabalho sem pagamento acompanhados de lesões corporais e morais). Esse foi certamente um dos principais motivos para que aqueles que estavam no topo da pirâmide resolvessem dar fim à monarquia, antes que ela se tornasse mais progressista e democrátia que seu projeto de república fajuta.
Não questiono o 20 de Novembro (Dia da Consciência Negra). Mas não tenho dúvida de que o 13 de maio (Abolição) é mais valoroso e alinhado aos valores humanos e democráticos que o 15 de Novembro, feriado do golpe da Proclamação da República. As dívidas com os negros até hoje não foram pagas e a estrutura fundiária brasileira permanece inalterada, como herança maldita de nosso passado escravista. Nascemos numa República, que já tem mais de um século, mas o trabalho histórico para a construção de uma sociedade justa e democrática está longe de terminar.
Importante resgatar esses dados, pois um povo que não preserva sua memória está condenado a repetir erros do passado. Golpes (militares ou judiciários) estão sempre a rondar o Brasil. Por trás deles, sempre a elite, ontem os fazendeiros, hoje os banqueiros.
ResponderExcluirCade as referencias, !??
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