segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Eu preferia um rinoceronte...

Francisco Everardo, o Tiririca,
 é um dos novos legisladores
 do Congresso brasileiros
Um rinoceronte faria menos merda
Há quatro anos, quando escrevi o texto abaixo sobre o fenômeno Cacareco (um rinoceronte que foi o vereador mais votado de São Paulo nos anos 50), não imaginava que um dia o estado de São Paulo teria 1.300.000 pessoas tontas o bastante para votar, DE VERDADE, no Tiririca.

A diferença, meu caro... é que votos em "cacarecos" como o Tiririca (registrados oficialmente) são um tiro no pé. Eles valem e levam gente pros cargos disputados.
No ano que vem, Francisco Everardo Oliveira Silva (que interpreta o personagem) será nosso representante em Brasilia e ajudará a definir o destino do País.
Valdemar da Costa Neto, renunciou para não
 ser cassado pelas CPIs do Mensalão e dos Correios
 Eleito em 2010 com um empurrãozinho de Tiririca
Quem votou no palhaço (embora chamá-lo de "palhaço" seja uma ofensa a essa classe artística) ajudou a eleger Waldemar da Costa Neto, um dos deputados que saiu mais enlameado do escândalo do mensalão e mais 3. O PR nasceu da fusão das más intenções do PL (dominado pela Igreja Universal e políticos com enorme ficha suja) com a bizarrice do PRONA. E tem gente que acha graça...
Tem gente que é contra o voto nulo. Mas... na boa... se é pra votar nuns caras desses, melhor não votar. E o toque vai também pra quem votou na Tati Quebra-Barraco, no Maguila, nas mulheres-fruta, nos meninos do KLB e etc.




O candidato rinoceronte



Leandro Cruz
Ele nasceu desengonçado e gordinho. Recebeu o nome de Cacareco, que na gíria significa sucata, lixo, coisa de pouco valor. Quem olhava a criatura, filha de Britador e Teresinha, não imaginava que em pouco tempo ela se tornaria um fenômeno da política e entraria para a história. Cacareco era um rinoceronte negro africano, nascido num zoológico carioca, mas que foi enviado como empréstimo para o recém-inaugurado zoológico de São Paulo em 1958 e se tornou a atração mais querida de todas.
Nos anos 70, o rinoceronte Cacareco
 virou  até personagem de revista
em quadrinhos
Cacareco tinha muitos admiradores no Bairro de Osasco, um bairro que havia crescido demais e cujos moradores sonhavam com a emancipação política. Os moradores de Osasco reclamavam que a Prefeitura paulista não dava a devida atenção à região que sofria com a falta de diversos serviços públicos básicos. Nas eleições municipais de 1959 muitos moradores do Bairro de Osasco, que defendiam a emancipação, tentaram se candidatar a vereador, mas as autoridades arbitrárias sempre arrumavam um pretexto para invalidar as candidaturas.
Mas Osasco não ficaria desamparado por muito tempo. Uma vez o jornalista Itaboraí Martins, da Rádio Eldorado, afirmou que estava tão desiludido com a política que iria votar em Cacareco, o bebê rinoceronte. E não é que teve gente que levou a brincadeira a sério?! Cacareco virou uma febre. Pessoas insatisfeitas pichavam os muros com slogans defendendo o “candidato” paquiderme: “Cacareco para vereador” ou “melhor votar no rinoceronte do que votar num asno” eram frases lidas nas ruas.
Foi a maior campanha por um voto de protesto já vista no Brasil.
Jornais conservadores escreviam editoriais contra a postura dos fanfarrões cabos eleitorais do rinoceronte. E numa tentativa desesperada de acabar com a bagunça, Cacareco foi exilado às vésperas das eleições.
Muita gente compareceu ao zoológico paulistano para protestar e dizer adeus ao simpático animal quando ele foi retirado à força de lá e embarcado em um caminhão de volta ao Rio de Janeiro em plena madrugada. Ele tentou resistir e permanecer em São Paulo, terra que o acolhera com tanto carinho, mas os dardos tranqüilizantes acabaram por derrubar o herói da gente de Osasco.
Em 2010, a funkeira Tatiana Lourenço, a Tati Quebra-barraco,
 autora de músicas como "Dako é Bom" pediu apoio dos evangélicos
para se eleger deputada pelo Rio de Janeiro. Não deu.
O povo lá parece não confiar em rinocerontes
O golpe do exílio não adiantou. Pelo contrário, gerou maior comoção e publicidade para o candidato não-oficial. A febre Cacareco se espalhou inclusive por outros bairros, nas mais diversas camadas sociais.
Vale lembrar que naquela época não existia urna eletrônica. Para votar em vereador a pessoa tinha que escrever o nome do candidato numa cédula de papel e depositar numa urna. Por fim, Cacareco teve mais de 100 mil votos, o suficiente para eleger mais de uma dezena dos 45 vereadores que São Paulo tinha na época. Obviamente, na contagem oficial, todos esses votos foram computados como nulos. Mas até hoje Cacareco é um dos vereadores mais bem votados da história de São Paulo.
O bebê rinoceronte não assumiu o cargo por razões óbvias, mas sua vitória não foi em vão. A notícia ganhou destaque internacional. Saiu até na revista Time. “O povo e as classes oprimidas foram magnificamente à forra”, escreveu Neil Ferreira, da revista O Cruzeiro.
A causa da emancipação de Osasco tinha ganhado projeção. Sob os olhares do mundo, inevitavelmente teve de ser convocado um plebiscito e o “sim” saiu vencedor. Graças ao pacato rinoceronte, Osasco se separou da capital paulista e se tornou uma cidade independente.
Cacareco foi até homenageado em uma marchinha de Carnaval: “Está faltando leite, está faltando pão, criança sem escola não tem mais solução, a queixa desse povo não encontra eco, e foi eleito o Cacareco”, dizia a canção.
O médico Enéias Carneiro tinha 15 segundos
 no horário eleitoral de 1989, mesmo assim
garantiu o 3o lugar nas tão esperadas eleições
 diretas; Eneias defendia até o cancelamento da
nova Constituição: "Um ano já se passou e até
agora nada mudou. Meu nome é Enéééias"
Até hoje Cacareco é um símbolo da anarquia consciente e da insatisfação. Virou uma gíria no meio político. Candidatos estranhos e com pouca chance de ganhar são chamados de “cacarecos”, mas muitas vezes eles acabam surpreendendo. Um dos maiores exemplos de “cacarecagem” da história recente do país foi o médico Enéias Carneiro, que nas eleições presidenciais de 1989, com apenas 30 segundos na TV, com suas ideias mirabolantes ultradireitistas, sua barba e sua voz de bravo conseguiu chegar em terceiro lugar, ficando à frente até de homens que haviam marcado a história do país na luta pela democracia como Leonel Brizola, Mário Covas e Ulisses Guimarães.

Um comentário:

  1. ô Tiozão , saudades , meu velho.
    cara, eu acho lamentável o voto de protesto no tiririca. Lamentável a postura do humorista de TV (essa classe que envergonha o humor) em reforçar o falacioso estigma de inculto do nordestino. E mais lamentável ainda uma parcela da população se identifique com o caricato personagem, teria muitas figuras melhores para isso.
    Mas o fato é que essa população se identifica com ele. Pelo bom humor, por uma suposta esperteza, por alguma ingenuidade, inclusive, sei lá que motivos outros, mas se identifica. E aí mora o facismo da crítica que o Vesgo do pânico faz, por exemplo. Oras, o paulistano , que se julga sofisticado, vota no Alckmin pelo mesmo motivo, por identificação com a figura "que vai representá-lo".
    O Tiririca representa bem o imigrante nordestino? Dizer isso seria atentar contra esse segmento da população. Mas dizer que o Alckmin representa os paulistas seria igualmente absurdo (afinal, nem todo paulista é ultra-conservador e cínico).
    Contudo , só o Tiririca é esculhambado. É a exaltação de um estereótipo e a segregação de outro. Ou seja, elitismo puro.
    Como diria Norberto Bóbio, "no linguajar de uns e outros, a democracia é sinônimo de mediocracia, entendida como domínio não só da camada média, mas também dos medíocres"(medíocres evidentemente subestimados, considerados no sentido que o senso comum popularizou, inferior, incapaz).
    Esse argumento, ele completa, é tipicamente facista.

    Cara, sucesso aí em Sanca.
    Avise quando passar por Bauru!
    O abraço

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