sábado, 24 de abril de 2010
Salve, Jorge! Saravá, Ogum!
Os bardos, poetas cantantes itinerantes da Idade Média, cantaram baladas contando a história de Jorge. O jovem guerreiro cristão que protagonizava a narrativa, encontrou um velho em prantos que lhe pediu ajuda. A sua cidade, Sylen, estava sofrendo a tirania de um Dragão que exigia, a cada dia, uma jovem donzela em sacrifício para não arrasar a cidade com seu hálito venenoso. As virgens estavam acabando (sério?) e agora chegara a vez da princesa. A guria, de 14 anos, já caminhava ao encontro da criatura que lembrava um crocodilo alado. Mas Jorge a impediu que continuasse.
Com seu cavalo branco, suas armas e sua fé em Cristo, o guerreiro foi pra porrada e arrebentou o safado do Dragão. Em reconhecimento, a cidade se converteu ao cristianismo e Jorge ainda casou com a mina.
Com todo respeito à fé das pessoas, mas, na moral, dragão não existe. Acontece que a biografia do popular santo guerreiro nascido na Capadócia se misturou com um monte de lendas, inclusive a de SiegFried, um herói matador de dragões da mitologia nórdica. O Jorge mesmo, era um soldado romano do século II, que se converteu ao Cristianismo e cujos atos heroicos o fizeram ganhar prestígio na corte romana. Quando Dioclessiano sismou de matar todos os cristão, Jorge tentou dissuadi-lo, tentando convencer o imperador a se converter à nova fé. Não rolou. Então torturaram, torturaram e torturaram de novo para que o cara deixasse a fé Cristã. Não rolou também. Pelo contrário, vendo a coragem de Jorge, muita gente se converteu. Por fim, Jorge morreu e foi enterrado na Palestina, terra de origem de sua mãe. Ali, anos mais tarde, quando o imperador Constantino se “converteu” ao cristianismo, foi construída por ordem de Roma a primeira de inúmeras igrejas dedicadas ao Santo.
Na Capadócia (na atual Turquia), terra de origem desse que é um dos mais populares santos do mundo, não existe uma estatuazinha sequer dele. Ninguém se lembra mais dele. Em compensação, Jorge é padroeiro da Inglaterra, da Catalunha, da Georgia, dos escoteiros e, mais importante, do glorioso e poderoso Sport Clube Corinthians Paulista (que acaba de se classificar com a melhor campanha para a segunda fase da Libertadores), o Timão.
No Brasil colonial, os negros eram proibidos de professar suas religiões. Com a influencia do cristianismo, acharam uma maneira de disfarçar. Adoravam santos católicos que identificavam com seus orixás. Em alguns lugares Jorge, foi identificado com Oxóssi (o orixá da Lua), em outras com Ogum. Ogum é o rixá guerreiro. Ligado aos metais e instrumentos feitos desse, protegia desde guerreiros como lavradores (espada, lança, inchada e arado são feitos de metal). Os valores e atributos de Jorge são os mesmos de Ogum: coragem, força, fé, determinação. Ogum não pode ser chamado para fazer mal a ninguém (ou o efeito se volta contra quem chamouou), mas apenas para vencer demandas contra inimigos que fazem mal ao fiel. Ele defende e vence as demandas justas, segundo a crença afro-brasileira.
Em 1969, o Vaticano promoveu uma demissão coletiva de santos. O Papa Paulo VI, reconhecendo que boa parte dos santos mais antigos tinham sua história mais basada em lendas do que em História e milagres “verdadeiros” declarou como falsos vários santos. Jorge ia ser demitido. Mas devido à grande popularidade do Santo em países como a Inglaterra, o papa embora o eliminasse do calendário de festas “oficiais”, permitiu que os fiéis de alguns lugares do mundo onde Jorge é muito popular continuassem a venerá-lo, construindo igrejas, rezando missas e acendendo velas.
O cardeal brasileiro Don Paulo Evaristo Arns convenceu o papa a estender ao Brasil essa permissão, alegando que o santo era muito popular no Brasil, pois era padroeiro do mais popular (e glorioso, hehehe) clube de futebol da Nação. Dia 23 de abril, dia do martírio do santo, é o dia de Jorge. No Twitter www.twitter.com/leandrojacruz , nesse fim de semana, muito mais sobre o santo, o mocinho do conto de fadas e o orixá.
sábado, 17 de abril de 2010
Pega, Mata e come
A edição da coluna Viagem no Tempo, publicada no Jornal do Povo (Rio Grande do Sul), do dia 17/04/10 (que você pode ler clicando aqui ) relembramos o Show Opinião, de 1964, montagem que tinha no elenco os músicos Zé Keti, João do Vale e Nara Leão (posteriormente substituída por Maria Bethânia, então com 18 aninhos mas com vozeirão de gente grande).
O espetáculo marca o início da Música de protesto. Esse protesto não se tratava apenas de denunciar as injustiças sociais do País, nem apenas a repressão da Ditadura Militar que havia acabado de se instalar. Era também uma afirmação de resistência cultural, de defesa da cultura regional brasileira em detrimento das porcarias gringas que eram impostas pela Indústria cultural.
Além de lançar clássicos como as músicas Acender as Velas, Opinião e Tiradentes, um momento em especial marcou o show-teatro: Carcará, sobre a ave de rapina que simboliza a resistência e garra do povo nordestino foi imortalizada na voz de Maria Bethânia.
Semana Passada, a banda Cabruera, num evento organizado pelo Enxame Coletivo em parceria com o Fora do Eixo fez uma releitura de Carcará, numa pegada Rock-antropofágica que deixou o público em êxtase.
Os meninos da Paraíba têm tudo para também entrarem para a história. Afinal, os caras são capazes até de transformar uma caneta esferográfica e um violão em rabeca de menestrel do sertão.
Antropofagia cultural é isso: pega, mata e come!
O espetáculo marca o início da Música de protesto. Esse protesto não se tratava apenas de denunciar as injustiças sociais do País, nem apenas a repressão da Ditadura Militar que havia acabado de se instalar. Era também uma afirmação de resistência cultural, de defesa da cultura regional brasileira em detrimento das porcarias gringas que eram impostas pela Indústria cultural.
Além de lançar clássicos como as músicas Acender as Velas, Opinião e Tiradentes, um momento em especial marcou o show-teatro: Carcará, sobre a ave de rapina que simboliza a resistência e garra do povo nordestino foi imortalizada na voz de Maria Bethânia.
Semana Passada, a banda Cabruera, num evento organizado pelo Enxame Coletivo em parceria com o Fora do Eixo fez uma releitura de Carcará, numa pegada Rock-antropofágica que deixou o público em êxtase.
Os meninos da Paraíba têm tudo para também entrarem para a história. Afinal, os caras são capazes até de transformar uma caneta esferográfica e um violão em rabeca de menestrel do sertão.
Antropofagia cultural é isso: pega, mata e come!
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