sábado, 25 de setembro de 2010

Cadê o Bin Laden?


Osama Bin Muhammad bin Awad bin Laden é o homem  mais procurado do mundo. Ninguém sabe cadê o cara!!! Por mais assustador que isso pareça para alguns, isso também inspira humoristas como o cartunista australiano Daniel Lalic, autor de Where is Bin Laden, uma espécie de Onde está Wally? com uma bela pitada de sarcasmo.
A imagem ao lado é uma amostra do trampo. Quando estiver com uma bela lupa e um dose de paciência, clique na imagem e tente descobrir onde está ele. Antes disso, continue lendo o post e descubra DE ONDE VEIO Bin Laden e a Al Qaeda de verdade. Já contei essa história no Se Liga (Jornal Comercio da Franca - Franca-SP) há alguns anos num artigo intitulado "AL Qaeda: Cobra Criada". O texto ganhou uma versão revisada, atualizada e ampliada para a coluna Viagem no Tempo (Jornal do Povo Cachoeira do Sul - RS) e teve de ser dividido em dois. A primeira parte saiu no dia 18 e está reproduzida logo aí na sequência. A segunda, saiu esse fim de semana.



COBRA CRIADA (Parte 1 de 2)

  por Leandro Cruz

O estrategista saudita Osama Bin Laden, nos anos 80,
trabalhando para os EUA em campo de treinamento para
mujahedines que lutaram contra os soviéticos no Afeganistão  

Responda rápido: onde exatamente você estava no dia 18 de outubro de 2003, às 19h13min, horário de Tóquio? E no dia 5 de abril de 1999, às 12h27min, hora de Joanesburgo? Bom... Eu também não lembro exatamente. Na verdade, nunca pensei a respeito. Mas agora, diga aí, onde você estava no dia 11 de setembro de 2001, às 9h03min, hora de Nova Iorque? Ok. Então creio que todos os que já se entendiam por gente há exatos nove anos compreendem a magnitude dos impactos históricos daquele momento, quando o mundo olhava catatônico pela TV a torre norte do World Trade Center e assistiu ao vivo à morte de outras centenas de pessoas no choque de um segundo avião contra o torre sul do prédio empresarial.
 
O artista dos quadrinhos Alex Ross retratou Super Homem
 consternado com os atentados que nem ele nem
 os heróis da vida real conseguiram impedir em 2001
“America under attack” era que mostrava o “GC” da CNN, quando descobrimos que o Pentágono (sim, aquele mesmo dos filmes) também estava em chamas. O que nem a Casa Branca, nem a CNN, nem ninguém sabia era: quem, afinal, estava atacando o país mais poderoso do mundo? Demorou um bom tempo até descobrirem. Osama Bin Mohammed Bin Awad Bin Laden, o homem por trás de outros ataques terroristas contra alvos americanos no exterior (ataque ao encouraçado Cole e a embaixadas no Quênia e Tanzânia) agora era responsável pelos ataques que resultaram na morte de 3 mil civis e militares em solo americano.
 
Um ódio assim, um planejamento assim, não surge do dia pra noite. A Al Qaeda (A Base), organização terrorista islâmica fundamentalista, já tinha história naquele momento. Na verdade, havia nascido e sido alimentada por muito tempo pelos governos americanos.
Quem já jogou War imagina como é difícil ter como objetivo “conquistar a Europa e Ásia e não deixar o inimigo tomar os territórios já ocupados por suas pedrinhas”. Entre meados dos anos 40 e os 80 do século passado os países capitalistas, capitaneados pelos Estados Unidos, travavam com os países socialistas, capitaneados pela União Soviética, o controle ideológico-econômico do mundo. Era a chamada Guerra Fria.
Soldado americano caminha por plantação de papoula
 no Afeganistão. O país, segundo a ONU, em 2007 já
 tinha mais do que dobrado sua produção de ópio. Matéria da BBC

 Quando se quer dominar o mundo, anota aí Pink & Cérebro, é fundamental controlar fontes de energia, pois disso depende o transporte e a produção industrial. Nos países mais gelados gás ou carvão são importantes até para que as pessoas não morram de frio no inverno. Americanos e soviéticos sabiam da importância da energia.   
O Afeganistão, terra em que se plantando quase nada dá (só umas papoulas para produção de ópio e nada mais), fica num ponto bastante estratégico: bem no caminho entre as fontes de gás no Mar Cáspio e o sudeste asiático. Sim, os Tigres Asiáticos têm uma fome danada de gás. Isso torna aquele lugar um ponto estratégico da disputa ideológica que os dois blocos travavam. Mas um país com tantos grupos islâmicos fervorosos não é tomado assim tão fácil. Só que os soviéticos achavam que ia ser mamão com açúcar, que iam chegar com seus tanques e mísseis e acabariam de uma vez com os barbudos da resistência entocados nas cavernas.


No filme Rambo III, de 1988, o personagem de Stallone combate
 ao lado dos mujahedines no Afeganistão contra os soviéticos.
 O filme entrou para o Guiness 1990 como o mais violento
 já produzido até então (com 221 atos de violência e 108 mortes)

Já os americanos preferiram a tática de ir firmando alianças com tribos e grupos locais. Ficavam “amigos” dos nativos, tão amigos e bem-intencionados quanto os portugueses que davam espelhinho de presente para os índios aqui do Brasil.


Mas os presentes eram armas e treinamento militar para que esses grupos pudessem combater os soviéticos. Os milicos americanos convenceram os afegãos de que os inimigos de Washington eram também inimigos do Islã. Diziam que o regime de Moscou era antirreligioso (o que não é inteiramente mentira) e viria a proibir a fé islâmica no país (o que não é inteiramente verdade).
 
Mas não foram os afegãos que assumiram o comando dessa “Jihad” anticomunista. Os primeiros comandantes desse grupo aliado dos americanos foram o saudita Osama Bin Laden e o palestino Abdulah Yusuf Azzan.

Grafite do artista Carlos Muños mostra o horror das
 guerras do nosso presente momento histórico


Bin Laden era multimilionário, herdeiro de uma família cuja empreiteira havia construído uma boa parte dos aeroportos do mundo árabe. Ele entendia de negócios, de estratégia, de guerra, de Alcorão, de treinamento de mujahedines, de aeroportos e aviões. Além disso, a família de Bin Laden investia em petróleo e havia, inclusive, sido sócia dos Bush no ramo da exploração do ouro negro. Ele era o grande articulador da resistência que veio a expulsar os soviéticos do Afeganistão para os americanos.


Os EUA acreditavam que eles iam ficar tranquilos no seu deserto tão logo o serviço estivesse feito. Mas não: os seguidores dessa versão distorcida e radical de Islamismo do grupo de Bin Laden queriam seguir “libertando o mundo” e “combatendo em nome da fé islâmica”. Era algo a se preocupar: um grupo radical agora tinha armamento, dinheiro e conhecimentos perigosos. E se a criação um dia se virasse contra o criador?

(continua...)
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A segunda parte, inédita, saiu esse fim de semana no JP. Clique sobre a miniatura abaixo e veja o PDF: